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Oremos

Bolsonaro foi esfaqueado no dia 6 de setembro durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG). (Foto: Reprodução)

O atentado contra Bolsonaro era, de certo modo, previsível. No grau de radicalização em que está lançada a política brasileira, alguma coisa tinha de acontecer. Os sinais estavam dados há bastante tempo, diante dos nossos olhos. Foi Bolsonaro a vítima, poderia ser Haddad ou Ciro ou outro qualquer.

O gravíssimo incidente até que tardou, na espiral de violência verbal, intolerância e ódio, que vem se espalhando insidiosamente em todas as instâncias da vida política nacional, nos últimos anos, nos últimos meses. Não há uma única voz no cenário conturbado que suavize o discurso, que desfralde a bandeira branca, que interrompa a marcha da insensatez.

Cada personagem da luta – agora sangrenta – eleva o tom de voz, berra mais alto, pousa de valentão, puxa briga. No combate sem fim e sem medida não há turma do deixa disso. As labaredas sobem aos céus, e ao lado só estão aqueles que jogam mais gasolina no fogo.

Os militantes de facções e partidos, armados até os dentes de raciocínios obtusos, passam ao largo do debate civilizado e necessário, na hora crucial. O embate político é um palco obscuro de impropérios, de clichês ofensivos, e ao mais leve pretexto os atores da tragédia perdem limites e estribeiras, partem para o ataque selvagem.

A mídia faz a sua parte. Está sempre em guarda para obter alguma declaração dos personagens do jogo estridente, mas só para os efeitos de colher a manchete do dia, dando preferência a alguma injúria lançada contra o inimigo. O eleitor aturdido imagina que os políticos vivem assim, e apenas assim, às turras, aos contrafeitos, no embate primitivo de quem xinga mais e melhor. Os programas de governo, os projetos para o país, de onde virão os recursos para as promessas sempre renovadas, nenhuma tevê, emissora de rádio ou jornal se incomoda em esmiuçar. O que vale é a contenda, a briga de cachorros loucos.

A mídia, quando entrevista um candidato, como no Jornal Nacional, age como implacável acusadora. Interrompem a fala, lembrando o pobre entrevistado de quantos pecados ele ou os seus aliados (possivelmente) cometeram e de quantos ainda vão cometer. É (o candidato) como um bandoleiro no banco dos réus, e não um candidato presidencial em uma bancada de tevê. Não há espaço para um único, miserável e piedoso reconhecimento de mérito. Não é entrevista, é interrogatório policial. A população, em estupor, é levada a crer que ninguém presta.

Nas redes sociais o clima é de guerra civil. As vozes cavernosas que dali ressoam, tecem loas fanatizadas às virtudes reais ou imaginárias dos seus candidatos, na mesma medida em que detonam os inimigos, vociferando, em termos raivosos e chulos. Desnudam por escrito a própria inconsequência e pobreza mental, o primarismo dos seus argumentos, logo a partir das agressões que cometem contra o vernáculo e o idioma pátrio.

O atentado a Bolsonaro só escancara, mais uma vez, que fracassamos como país, como nação e como povo. Não há uma única voz lúcida que nos dê um sinal, um só sinal. Este país, do jeito que está não pode fazer nada por nós. E, bem pior, nós também – perplexos, impotentes – nada podemos fazer por ele, a não ser orar.

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