Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 19 de outubro de 2024
O PCS Lab Saleme, apontado pela Polícia Civil como responsável pelo erro que provocou a infecção por HIV em seis pacientes após o transplante de órgãos, já emitiu dezenas de resultados com falso positivo e falso negativo para HIV, inclusive para crianças.
Essa foi a análise feita pela promotora de justiça Elisa Ramos Pittaro Neves, na representação feita pelo Ministério Público (MPRJ) e enviada à Justiça na quinta-feira (17).
“Insta salientar que os investigados e o respectivo laboratório PCS Lab Saleme já emitiram dezenas de resultados com falso positivo e falso negativo para HIV, inclusive em exames de crianças, respondendo a inúmeras ações indenizatórias por danos moral e material”, escreveu a promotora.
Segundo ela, a “reiteração dessa conduta demonstra total indiferença com a vida e a integridade física e psicológica de seus clientes, e da população como um todo”.
Foi o MPRJ que pediu que os quatro investigados no caso tenham a prisão temporária prorrogada.
“Apesar das investigações estarem transcorrendo de forma regular, a gravidade dos delitos, o número de vítimas e a conduta reiterada dos investigados demandam tempo para que a investigação transcorra de forma regular, permitindo a colheita de elementos que corroborem com a formação da opinio delict do Ministério Público”, dizia um trecho do documento.
Nessa sexta-feira (18), O Tribunal de Justiça do Rio renovou a prisão temporária dos presos investigados no caso dos transplantes de órgãos infectados com HIV. Ao longo da semana, a Delegacia do Consumidor (Decon) ouviu os depoimentos de alguns dos investigados pelo caso. Entre eles, há diversas contradições que os policiais apuram, como quem foi de fato o responsável por realizar os exames da Central de Transplante.
Datas
O dia em que o técnico de laboratório Cléber de Oliveira Santos parou de trabalhar na PCS Lab Saleme é um dos pontos de contradição nos depoimentos das pessoas ouvidas pela polícia na investigação do caso. Cléber alega que deixou de trabalhar no laboratório no dia 20 de janeiro, antes de o primeiro exame de falso negativo ser realizado.
Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, sócio do laboratório, diz que a informação é incorreta e que Santos trabalhou na unidade até o dia 31 de janeiro. A participação direta de Cléber no laudo de falso negativo é também apontada por Walter Vieira, médico e sócio do laboratório. Segundo ele, era Cléber quem deveria ter realizado um procedimento de checagem no equipamento em que os testes de HIV eram feitos:
“Porém, tal procedimento não foi feito por Cléber, e essa falha fez com que o resultado do teste desse negativo quando, na verdade, deveria ter dado positivo”, contou Vieira à polícia. Ele ainda acrescentou que a liberação do laudo também teria sido realizada por Cléber.
Acesso ao sistema
Outro ponto de divergência nos depoimentos é sobre o sistema de lançamento de laudos e o acesso por senha pessoal. À polícia, Jacqueline Iris Barcellar de Assis afirmou que a empresa de tecnologia de Matheus “controlava o sistema do laboratório e manipulava os resultados, com possibilidade de adulteração dos exames”. Em seu depoimento, Cléber reforçou essa versão, dizendo que algumas pessoas conseguiam editar “lançamentos feitos anteriormente se tivessem senhas ‘master'”. O técnico ainda afirmou que Matheus e os sócios do laboratório tinham esse tipo de acesso.
Controle de Qualidade
Uma das linhas de investigação da Polícia Civil é se os erros aconteceram por uma falha no controle de qualidade do exame para HIV. Ivanilson Fernandes dos Santos afirmou que o estabelecimento passou a fazer testes de controle de qualidade de seus equipamentos semanalmente para economizar. Em depoimento à Polícia Civil, ele conta que o procedimento era feito diariamente até dezembro de 2023, mas para reduzir os custos a coordenadora Adriana Vargas ordenou que fossem feitos uma vez por semana.
Falso diploma
Um dos laudos que atestou erroneamente que não havia o vírus HIV no doador contém a assinatura de Jacqueline Bacellar, apesar dela não ter formação técnica para isso. Ela diz que tem formação como técnica em análises clínicas, mas o laboratório afirma que ela apresentou um diploma falso como biomédica — o que a credenciaria para trabalhar analisando as amostras.
Em seu depoimento, Jacqueline disse que tinha apenas uma função administrativa e nunca havia assinado um laudo. Ela conta ainda que ao começar a trabalhar no PCS Labs Saleme foi pedido que ela assinasse um papel com sua rubrica para cadastro no sistema.