Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 24 de maio de 2024
O cérebro muda mais rapidamente em vários momentos de nossas vidas, como se o relógio da vida estivesse correndo mais rápido que o normal. A infância, a adolescência e a velhice são bons exemplos disso. A fase de envelhecimento do cérebro entre os 40 e os 50 anos, ou a “meia-idade”, momento em que as mudanças ocorrem muito rápido, pode prever a saúde da mente no futuro.
Um estudo de cientistas da Universidade Johns Hopkins e da Universidade do Mississippi analisou a presença de moléculas inflamatórias no sangue de adultos de meia-idade e foram capazes de prever mudanças cognitivas que poderiam se manifestar 20 anos depois.
Os pesquisadores defendem que a ciência se concentra na saúde na idade avançada, quando os efeitos do tempo são mais óbvios. Nessa altura, muitas vezes pode ser tarde demais para intervir. A meia-idade pode ser um período chave para detectar precocemente fatores de risco de declínio cognitivo, como a demência.
O conteúdo do sangue pode causar o envelhecimento do cérebro. Com o tempo, as células e órgãos deterioram-se lentamente e o sistema imunológico pode reagir a isso, iniciando o processo de inflamação. Moléculas inflamatórias podem chegar na corrente sanguínea, ao cérebro, interferir no funcionamento do órgão e possivelmente prejudicar a cognição.
Mudança silenciosa
Ao avaliar a memória de pessoas sobre acontecimentos quotidianos, o estudo afirma que a mudança ao longo do tempo parece ser especialmente rápida e instável durante a meia-idade. Isso sugere que o cérebro pode atravessar mudanças aceleradas, em vez de graduais, durante esse período. Descobriu-se que várias estruturas do cérebro mudam na meia-idade. O hipocampo, área crítica para a formação de novas memórias, é uma das estruturas do cérebro que muda durante esse período.
O exercício físico confere alguns benéficos ao cérebro em processo de envelhecimento, através de mensageiros transmitidos pelo sangue. Eles podem funcionar para se opor aos efeitos do tempo.
Reengenharia
“O cérebro, embora represente apenas 2% do nosso corpo, consome 20% da glicose que entra no nosso organismo. Mas, com a idade, ele vai perdendo a capacidade de absorver esse nutriente”, explica a neurocientista Sharna Jamadar, da Universidade Monash.
“O que o cérebro faz é uma espécie de reengenharia dos seus sistemas para aproveitar da melhor forma possível os nutrientes que, agora, pode absorver”, explica ela.
Segundo os cientistas, este processo é “radical”. E, como resultado, as diferentes redes de neurônios se tornam mais integradas nos anos seguintes, com efeitos sobre o processo cognitivo.
Um dos aspectos que chamou a atenção é que as tarefas que dependem de processos automáticos ou muito repetidos e praticados ao longo da vida são menos afetadas ou podem até melhorar.
“Temas como a linguagem ou outros que aprendemos de forma geral, úteis na nossa vida diária, podem até melhorar com o passar dos anos”, afirma a pesquisadora.
Como a otimização dos nutrientes é uma das razões das mudanças radicais do “cabeamento” do cérebro, a principal recomendação para manter o cérebro saudável à medida que envelhecemos é manter uma dieta saudável e fazer exercícios. Neste sentido, é recomendável o consumo de alimentos como nozes, abacate e outros vegetais.
“O cérebro irá consumir glicose em menor quantidade e de forma menos eficaz”, explica Jamadar, “de forma que os alimentos que consumirmos terão efeitos imediatos sobre a saúde do nosso cérebro.”
Por isso, ela também recomenda fazer exercícios mentais, como palavras cruzadas e outros jogos de memória. Eles irão permitir que essas redes continuem ativas, mesmo não estando mais tão conectadas entre si.