Quarta-feira, 12 de março de 2025
Por Redação O Sul | 11 de março de 2025
Antes de Gene Hackman desaparecer da vista do público em sua cidade adotiva de Santa Fé, no Novo México, os moradores locais viam o velho astro de cinema no campo de golfe ou passeando em sua caminhonete com seus amados cachorros, em meio às algarobas, zimbros e pinheiros, árvores típicas da bela paisagem da região.
Sua esposa, Betsy Arakawa, quase sempre estava com ele. Ela administrava boa parte da vida do ator aposentado. Organizava os jogos de golfe com os amigos. Acompanhava sua dieta, dado o problema cardíaco que o perseguia há décadas. Diluía seu vinho em água com gás. Digitava e editava os romances que ele escrevia à mão. Aparentemente, ela havia assumido o papel de única cuidadora enquanto ele enfrentava os efeitos devastadores do Alzheimer. Trinta anos mais nova, deve ter planejado ficar com ele até o fim, na casa onde os dois moravam.
Assim, foi ainda mais chocante quando a polícia revelou as reviravoltas no mistério sobre a morte do casal no mês passado, na casa de quatro quartos, escondida por árvores no final de um luxuoso beco sem saída a leste da cidade.
Segundo as autoridades, o casal morreu de causas naturais, ele de doença cardíaca e ela de uma infecção viral rara. Mas foi Arakawa — a cuidadora, amante, protetora — quem morreu primeiro, talvez em 11 de fevereiro, deixando Hackman, 95 anos e com Alzheimer avançado, sozinho na casa por dias. Acredita-se que ele tenha morrido uma semana depois, em 18 de fevereiro.
Os corpos em decomposição foram descobertos apenas oito dias depois, quando um trabalhador da manutenção chamou um segurança quando ninguém apareceu para atender a porta. Os socorristas encontraram Arakawa, de 65 anos, no chão de um banheiro perto de um frasco de remédio e comprimidos derramados. Zinna, um de seus três cães, estava morto em um armário. O corpo de Hackman foi encontrado em um saguão, com chinelos e uma bengala.
O legista chefe do Novo México disse na sexta-feira que a doença de Alzheimer foi um fator na morte de Hackman. Arakawa morreu de hantavírus, contraído pela exposição a excrementos de roedores, geralmente o rato-veado naquela parte dos EUA.
Os detalhes exatos do que aconteceu na casa ao longo daquela semana podem nunca ser conhecidos. Amigos e vizinhos disseram que o casal havia se recolhido cada vez mais desde o início da pandemia de COVID-19. Mas a linha do tempo apresentada na sexta-feira levanta a possibilidade aterrorizante de que Hackman, um veterano da Marinha e ator de precisão e controle consumados, tenha passado dias na presença de sua esposa caída, desorientado ou fraco demais para pedir ajuda — preso, essencialmente, na casa bonita e isolada que havia sido sua recompensa por uma vida de trabalho duro sob os holofotes.
Homem comum
A vida que eles adotaram em Santa Fé era encantadora e surpreendentemente normal. Uma casa no topo de uma colina que eles possuíam fora da cidade, construída de acordo com suas especificações num elegante estilo do sudoeste, foi apresentada pela revista “Architectural Digest”. Hackman se juntou ao conselho do Georgia O’Keeffe Museum, uma das joias culturais da cidade. Eles investiram em um restaurante, Jinja, que exibia as pinturas de Hackman e batizaram um coquetel mai tai da casa em sua homenagem.
Por outro lado, muitos destacavam a aparência de homem comum que muitas vezes ele interpretou nas telas. Helen Dufreche, uma antiga vizinha, lembr de ter encontrado Hackman pela primeira vez há cerca de uma década. Ele dirigia uma caminhonete, usava um boné de beisebol e parou ao lado dela para elogiar seus dachshunds.
Isolamento na Covid-19
Segundo um amigo, era possível sentir que Hackman estava decaindo. O casal tinha uma tradição dele preparar o jantar no aniversário de Arakawa. Em 2023, ela voltou para casa esperando uma refeição, Allin lembra, mas ele havia esquecido o ritual.
Como muitos americanos mais velhos, Hackman se refugiou em ambientes fechados durante a crise da COVID para se manter seguro. Nos últimos anos, vizinhos do Santa Fe Summit, o condomínio fechado onde o casal morava, disseram que não viram nenhum sinal deles, exceto as latas de lixo na beira da estrada, esperando para serem recolhidas.
Durante a entrevista coletiva de sexta-feira, o xerife Adan Mendoza, do Condado de Santa Fé, disse que os investigadores determinaram que, em 9 de fevereiro, um domingo, Arakawa havia pegado Zinna de um veterinário depois que a cadela passou por um procedimento, o que poderia explicar por que ela estava sendo mantida em uma caixa. As informações são do portal O Globo.