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Por Redação O Sul | 24 de junho de 2017
Os abscessos, formações purulentas ou fibrosas encontradas em carnes brasileiras e que motivaram o fechamento do mercado dos Estados Unidos para o produto resultam de falhas durante a aplicação de vacinas ou na limpeza da carne, de acordo com avaliação de especialistas do setor.
A presença dessas doenças em uma parte do corpo do animal não significa que toda a carne dele esteja condenada. Entretanto, não há consenso entre os especialistas no que se refere à segurança do consumo de peças afetadas.
O veterinário Pedro de Felício, professor aposentado da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), afirma que após a vacinação contra a febre aftosa, o animal pode reagir com uma inflamação na área da aplicação, que dá origem ao abscesso. Partes do animal onde eles se desenvolvem devem ser eliminadas no abate. Os abscessos não tornam o consumo da carne prejudicial à saúde, ressalta.
Por outro lado, Angélica Pereira, professora da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP (Universidade de São Paulo), afirma que abscessos favorecem a formação de coágulos sanguíneos e proliferação de bactérias nas peças de carne que os possuem.
Como consequência, há uma redução do prazo de validade e risco para saúde do consumidor. Se houver contaminação, ele pode ter febre, vômito e diarreia, de acordo com Pereira. Professora de medicina veterinária da universidade Anhembi Morumbi, Paula Spinha pondera que é possível que abscessos não sejam identificados mesmo durante inspeções adequadas.
“Ele pode estar no interior de um grupo muscular. Não se retalha toda a carne durante a inspeção”, afirma Paula. “Apesar do aspecto ruim, eles não impedem o consumo do restante da carne. Eles são encapsulados pelo organismo do animal, e a bactéria não se dissemina.”
Já o vice-presidente do Sindan (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal), que reúne as indústrias produtoras de vacinas para o setor, Emílio Salani, nega que a imunização tenha causado o problema. “Temos um sistema de controle rígido de todo o processo. Esse monitoramento é feito pela indústria e pelo próprio Ministério”, afirma.
A Abiec (Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne) afirma que está tomando “ações corretivas” para adequar os processos produtivos para retomar as exportações para o mercado dos Estados Unidos.
Febre aftosa
Doença infecciosa aguda que causa febre, aparecimento de aftas (principalmente na boca e nos pés) de animais como bovinos, búfalos, caprinos, ovinos e suínos, a febre aftosa é causada por um vírus que pode se espalhar rapidamente, caso as medidas de controle e
erradicação não sejam adotadas.
Os animais contraem o vírus no contato direto com outros infectados. Calçados, roupas, alimentos e mãos das pessoas que lidaram com animais doentes também contribuir para a transmissão.
No Brasil, a vacinação contra febre aftosa ocorre em todos os Estados, exceto por Santa Catarina, considerado desde 2007 pela OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) livre de febre aftosa sem vacinação.