Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 3 de fevereiro de 2019
Senadores de longa trajetória que trabalharam pela vitória de Davi Alcolumbre (DEM-AP) na tumultuada disputa pela presidência do Senado vão organizar um grupo para auxiliar o parlamentar de 41 anos na condução da Casa. O gesto é não só um reconhecimento da inexperiência do eleito, mas também do potencial bélico dos adversários que foram abatidos no caminho — Renan Calheiros (MDB-AL) à frente. Tasso Jereissatti (PSDB-CE) convocou reunião nesta terça (5) para tratar do assunto.
A adesão de Tasso à candidatura de Davi foi decisiva para emparedar os possíveis apoiadores de Renan no PSDB. Tido como favorito, o alagoano colocou a conta da derrota nas defecções dos tucanos e do PSD.
Renan calculava ter cinco votos no PSD, de Gilberto Kassab, quatro no PP e ao menos dois no PSDB. No meio da segunda votação, contabilizou apenas um apoio na primeira sigla. Sergio Petecão (PSD-AC) acertou com Alcolumbre que ficaria com a Primeira-Secretaria do Senado.
Inquéritos
Crimes eleitorais, contra a fé pública e uso de documento falso. São essas as acusações contra o novo presidente do Senado que constam em dois inquéritos contra ele no STF (Supremo Tribunal Federal). É o que mostra o levantamento feito pela Rádio CBN nos processos envolvendo o nome do senador. Um deles, de número 4353, corre em segredo de Justiça e não é possível ter acesso a detalhes da acusação. O outro, registrado no STF com o número 4677, traz detalhes da denúncia encaminhada pelo Ministério Público Federal do Amapá sobre supostas irregularidades cometidas por Alcolumbre na campanha de 2014.
Segundo o inquérito, o então candidato ao senado utilizou notas fiscais frias para a prestação de contas. Os investigadores também apontam ausência de comprovantes bancários e contratação de serviços com data posterior à das eleições. De acordo com a acusação, cheques vinculados às contas da campanha eleitoral, emitidos nominalmente a empresas que teriam prestado serviços ao então candidato, foram na verdade endereçados a Reynaldo Antônio Machado Gomes, contador da campanha de David Alcolumbre. Parte desse dinheiro teria sido sacado em espécie na boca do caixa.
No STF, os dois inquéritos ainda estão na fase de diligências que devem ser conduzidas pela Polícia Federal e não há prazo para conclusão.
Outro dado que chama a atenção na prestação de contas de Alcolumbre na campanha de 2014 é doação recebida do grupo JBS. Foram R$ 138 mil no total. O senador presidiu a CPI do BNDES, que apurou irregularidades na empresa. Na época, ele negou qualquer interferência e alegou que os recursos foram recebidos dentro da lei. Para o cientista político Melillo Dinis, ainda é cedo para saber se as acusações vão atrapalhar a vida de Alcolumbre na presidência do Senado.
“De todo modo, é importante avaliar qual é o sentido das acusações e dos processos e ao mesmo tempo vislumbrar se isso não é algo que vai prejudicá-lo ou deixá-lo à mercê da disputa com os senadores”, reflete.
No Senado, a prestação de contas de Alcolumbre também revela gastos expressivos. De 2015 a 2018, ele gastou R$ 1.746.000,00 da cota de gabinete. A maior parte, R$ 761 mil, com a divulgação da atividade parlamentar. Outros R$ 459 mil foram desembolsados pelos cofres públicos para pagar hospedagens, alimentação, locação de veículos e combustíveis para o senador.
Já em votações importantes, Davi Alcolumbre se posicionou de maneira controversa em algumas matérias. Votou contra o afastamento do então senador e agora deputado, Aécio Neves, e a favor do reajuste dos ministros do Supremo.
A relação do senador com familiares e aliados também é alvo de críticas. Alcolumbre tem como suplente o irmão, Josiel Alcolumbre. Também está lotada no gabinete dele com cargo comissionado a esposa do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzony, Denise Veberling.