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Por Redação O Sul | 16 de abril de 2023
Os recentes ataques em escolas brasileiras e supostas ameaças de novos crimes têm disseminado uma onda de pânico entre pais, alunos e professores. Psicólogos com atendimento em comunidades escolares narraram casos de ansiedade, crises de choro e medo de ir às classes. Ao mesmo tempo, atuam para desmistificar a imagem da sala de aula como ambiente perigoso e restaurar o espaço dedicado a diversidade, inclusão e acolhimento.
O vínculo entre os diferentes agentes da comunidade escolar, que ainda se recupera da pandemia, é estremecido pelos ataques e fortalecido pela vontade coletiva de superar a crise coletivamente.
“Vivemos uma transição. No passado, havia uma demanda maior por causa dos efeitos da pandemia, com histórias de tentativa de suicídio, autolesão e comportamentos violentos. Quando houve o ataque (na escola) da Vila Sônia, nos encontramos com demandas maiores, que saem do território de conflitos cotidianos”, diz Gabriela Gramkow, professora de Psicologia na PUC-SP.
Redes sociais
Muitos alunos das redes pública e privada têm manifestado ansiedade na hora de ir à escola, medo do escuro, insônia ou crises de choro. Além disso, famílias cobram ações e protocolos que garantam a segurança. No Marista Arquidiocesano, escola particular tradicional de São Paulo, houve uma enxurrada de e-mails e telefonemas de pais e responsáveis.
“A maioria demonstra preocupação e medo com o que vai acontecer”, diz Simone Dias, coordenadora do ensino fundamental 2. Ela conta que um dos gatilhos responsáveis por desencadear crises de ansiedade entre alunos, a maioria de 12 a 15 anos, tem sido o volume de sugestões que recebem nas redes sociais de conteúdos ligados a ataques e ameaças. “Eles passam muito tempo no celular e o algoritmo recomenda.”
O tema foi abordado em uma roda de conversa com professores e alunos do ensino médio, enquanto os estudantes mais novos têm sido acompanhados caso a caso, à medida que expressam alguma dúvida ou apreensão. “Começaram a nos trazer vídeos das redes sociais e íamos desmistificando aquilo”, diz ela.
Professores
Vistos como porto seguro por famílias e alunos, professores também têm sofrido com os próprios medos, muitos relatando depressão, ansiedade, esgotamento físico e emocional, algo que já vinham se agravando desde a pandemia. “O Brasil tem esse sintoma importante de que ‘saúde mental na escola’ é voltada para o professor ajudar o aluno, mas dificilmente ele é foco das intervenções”, afirma Ana Carolina D’Agostini, coordenadora do Instituto Ame Sua Mente. “Na rotina, há pouco espaço para educadores falarem como estão se sentindo, terem troca sobre conhecimentos e propor soluções.”
Professora de Psicologia na USP, Beatriz de Paula Souza é coordenadora do Serviço de Orientação à Queixa Escolar e uma das profissionais responsáveis por atender a comunidade da Escola Raul Brasil, em Suzano, após o ataque que terminou com dez mortos em 2019. Nas últimas semanas, ela tem ajudado a acolher alunos, professores e familiares da Thomazia Montoro, trabalhando na reparação do vínculo que eles têm com a vida escolar. “O que eles viveram é de uma violência inominável.”
Ela defende que esse trauma coletivo deve ser enfrentado e curado de forma coletiva, ainda que demore anos. “Não dá para entender os problemas como se as pessoas fossem fenômenos isolados. Elas estão precisando de carinho, abraços e de ouvidos atentos e pacientes, porque é muita coisa para colocar para fora”, afirma. Rodas de conversa, diz ela, são tão importantes quanto “viver momentos leves de alegria” e é preciso encontrar alternativas de expressar o que sente, seja por esporte, arte ou poesia.
É unanimidade entre especialistas que só policiamento ou reforço na segurança não será capaz de frear novos ataques. Para chegar à raiz do problema, é preciso um trabalho multisetorial envolvendo alunos, pais, professores e diretores, mas também equipes da saúde, educação, segurança e assistência social. “Esse ataques são também contra o que as escolas representam: uma resposta nossa a um funcionamento social muito desigual, à barbárie. É um ataque ao mundo diverso da escola”, diz Adriana Marcondes Machado, especialista em psicologia escolar e professora do Instituto de Psicologia da USP.