A fome de matar
A televisão, cinzenta ou colorida, não tem tempo para transmitir notícias imediatas. Que notícia imediatas? As que chegam junto com os fatos ocorridos.
Na disparada das palavras já se noticiou “ao vivo” 5 mil mortes. Uma usurpação e um abuso que se propõe a explorar o seu sentido elaborado pelo cérebro. Velhos que estariam já sem crédito para o tempo futuro de viver ou crianças que não chegaram a saber que a vida exige que cada um entenda que há tantos que não suportam sabê-lo vivos. Por quê?
O porquê não importa. Chega-se a dizer que, para muitos, o que vale é somar quantos eram e quantos não são mais.
Há, por exemplo, palestinos que não conseguem convencer outros palestinos das suas batalhas e razões, que usualmente tem como alicerce um furioso nacionalismo e fanática fé religiosa. Por exemplo, em Gaza, estavam israelenses que procuravam se explicar das suas próprias opções. A geografia, com seus cortes e recortes, estabeleceu um condomínio onde falta um sentimento e uma proposta para que, juntos, pudessem solidificar a vida dos que ali vivem.
De qualquer maneira, como vimos e ouvimos, a morte, mais uma vez neste mundo de armas tecnológicas, tem a velocidade do incalculável.
Escrevo quando o tempo, miserável inimigo, que não se entende nem no simplório placar das horas, avisa-nos que já são cerca de 5 mil os mortos em pouco mais de 9 dias. Matou-se e morreram em novas jornadas de dias de ferocidade humana desprezando o pecado de condenar os verdadeiros inocentes, os chamados irracionais. Isto é, deu-se espaço e até houve comemorações doentias quando se destacou a importância do crime pelo crime, do matar pelo matar e se envolvem nesse trair pelo trair.
Não, eles não são os que só se envolvem nesse ato de falsidade. Repetindo: eles vivem e convivem seguindo o princípio interesseiro do trair pelo trair.
Não, eles não são os que só matam para comer e para sobreviver. Não são capazes nem tem interesse de fantasiar sua ação, enfeitando-a ou vestindo-a com a roupa do engano.
Não usaram nem usam as armas, porque não foram eles que as inventaram para matar. Só os homens desobedecem o Deus em quem dizem crer para saciar a fome de matar. Que vergonha!
Carlos Alberto Chiarelli foi ministro da Educação e ministro da Integração Internacional
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