O amor que mata
Não há como se omitir. Apenas uma sensação de que não há mais surpresas na vida em sociedade. Sabe-se o que aconteceu e, seguramente, o que não aconteceu.
Havia quem lamentasse, por exemplo, do fato de um militar com a regra vigente em Israel ser dependente de uma convocação para prestar serviço numa guerra ou rebelião. É que o jovem, ao servir as forças armadas por dois anos – mesmo já quitados – podiam, ainda, até os 40 anos, ser convocados (o que, segundo as informações ora colhidas, faria que eles se apresentassem com sua arma militar mais moderna que, ao dar “baixa” do serviço, podia levada para casa enquanto estivessem na idade de convocação).
Nas instalações de repouso de um regimento, a hora avançava, perseguindo a futura madrugada. Os sonhos dos jovens, quase ritmados, era comunicação que mergulharam num sono profundo. Enquanto isso, a lua cheia fazia seu lento e previsto balé de todas as noites.
Melhor: a temperatura não tinha apenas a pretensão de ser simplesmente uma consequência. Um meio termo dos graus que, por isso mesmo, ajudaram o convívio suportável.
Os alojamentos respiravam no ritmo dos pulmões sadios; as famílias, confiantes no bem dormir dos homens de segurança, acompanhavam mentalmente seu ressonar, como dizia o pessoal que não conseguia se submeter aos submetidos a Morfeu. O despertar, alguns acharam que era uma tempestade elétrica; outros, não tinham certeza que já se haviam acordado.
A surpresa foi, de pronto, espantosa quando foram alertados pelos portões da base que rangiam por velhos na abertura não prevista. As mensagens de fogo saíam do céu ajudando a vê-lo; antes, porém, mero enfoque do que ocorrera.
As vantagens disso logo se consolidaram no que iria acontecer.
Havia uma interrogação no ar. Ao mesmo tempo, os céus davam a impressão de que se estava lançando, a cada 30 segundos, um vetor vermelho, que os militares israelitas, conhecendo o poderio das armas, passaram a entender que estava acontecendo um bombardeio muito superior ao que eles teriam pensado que pudesse ocorrer.
Enquanto isso, o arrasador ataque aéreo do Hamas, de foguetes e bombas, logrou efetivar – segundo se pôde entender sendo composto de atuações pessoais na escuridão da noite e, também, no recolher as armas – a preparação rapidamente posta em linha de tiro que dispararia material bélico de muito maior calibre. Há uma forte similitude, que chega ao comando do Hamas, fazendo-lhe saber que o grupo Hazzbolah, atuante na fronteira com o Líbano, liberou um documento fortemente hostil e radical contra Israel e o complementou, apoiando a ação do Hamas e dizendo dos seus propósitos de agir solidariamente com o grupo sediado em Gaza.
Informações difíceis de obter, retiradas de documentos de segurança, desenvolvidos pela utilização de um militar infiltrado nas tropas de Israel que conseguira fazer disparar, dentro do próprio acampamento, por volta de três mil foguetes. Tal ocorrência aumentou a insegurança num processo quase anárquico de militares israelenses. O Hamas logrou efetivar todo o projeto que se compunha de mobilizações pessoais e grupais, utilizando-se dos pontos táticos escolhidos com todo cuidado para o disparo dos foguetes. Além do mais, as informações de aplauso e solidariedade do Hazzbolah, que tinha uma rivalidade histórica com o Hamas, demonstrou que, também, os rebeldes do extremo sul, que haviam enfrentado um período de redução da tropa, voltavam com um armamento que, em princípio, complementaria o volume e a qualidade diversificada do Hamas.
A madrugada completara o seu ciclo. Enfim, o que fez o Hamas? Certificou-se do aproveitamento já consagrado de vida tranquila, de profunda prioridade das práticas internas e da integração dos soldados, especialmente no turno da noite, que não mais viviam uma tensão pré-batalha – o que tinha sido elementar em tempos passados.
A verdade é que o sistema do Hamas mostrou que incorporara na sua estruturação vários procedimentos, exercícios e estratégias que tinha aprendido, ao ver nas cinco guerras anteriores, os eficientes resultados que dela resultaria pelo seu uso através das tropas israelenses.
O próprio sistema de comando, sua permanente qualificação e a privacidade dos planos de ação, tudo fora superado por um tipo de postura que fazia da tropa israelense um grupo de disciplina frágil e de muito difícil mobilização. As tropas de hoje não se lembravam mais das cinco guerras anteriores e foram vítimas da tática de Moshe Dayan – que, ao fazer um ataque surpresa na maior base aérea dos palestinos numa noite de inverno rigoroso, em uma hora de bombardeio e sem deixar que os aviões do Hamas pudessem decolar, conseguiu liquidar 90% dos seus aparelhos de combate.
A verdade é o que o Hamas fez, agora, estando preparado e habilitado, aquilo que Israel tinha feito há 15 anos com os rebeldes de hoje.