A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem recorrido à estratégia de citar depoimentos de outras testemunhas para rebater as acusações contra ele. Mas os depoimentos de Emilio Odebrecht e de Marcelo Odebrecht corroboram a maior parte do que disse na quarta-feira (6) o ex-ministro Antonio Palocci em depoimento ao juiz Sérgio Moro. Mas há uma contradição. Logo na abertura do depoimento, o Ministério Público esclareceu que Palocci, ex-ministro dos governos Lula e Dilma, não fechou acordo de delação premiada.
“Nós não temos acordo de colaboração firmado com o réu aqui presente. Ele nos procurou, nós estamos conversando, mas nós não temos nada prometido, nem assegurado, garantido e nem ele nos trouxe elementos de prova que estão sendo utilizados em qualquer momento” informa o MP (Ministério Público).
Palocci disse ao juiz Sérgio Moro que a eleição de Dilma em 2010 gerou apreensão na Odebrecht. E chamou de pacto de sangue um acordo que a empresa fechou com o ex-presidente Lula. “Então quando a presidente Dilma foi tomar posse, a empresa entrou num certo pânico e foi nesse momento que o doutor Emilio Odebrecht fez uma espécie de pacto de sangue com o presidente Lula. Ele procurou o presidente Lula nos últimos dias do seu mandato e levou um pacote de propinas pro presidente Lula que envolvia esse terreno do Instituto, que já estava comprado, e o senhor Emilio apresentou ao presidente Lula. O sítio pra uso da família do presidente Lula que ele já tava fazendo a reforma em fase final e ele disse ao presidente Lula que o sítio já estava pronto e também disse ao presidente Lula que ele tinha, à disposição dele, pro próximo período, pra ele fazer as atividades políticas dele, R$ 300 milhões de reais”, delatou Palocci.
O ex-ministro disse que Lula contou a ele que havia combinado com Emilio Odebrecht repasses de dinheiro – lícito e ilícito. E que Dilma sabia. “Numa reunião no dia 30 de dezembro de 2010, nessa reunião, o presidente Lula leva a presidente Dilma, presidente eleita, pra que ele diga a ela das relações que ele tinha com a Odebrecht e que ele queria que ela preservasse o conjunto daquelas relações em todos os seus aspectos, lícitos e ilícitos.” Palocci relatou que pediu, a Marcelo Odebrecht, R$ 4 milhões para o Instituto Lula.
A defesa de Lula afirmou que Palocci está preso e sob pressão e negocia com o Ministério Público um acordo de delação que exige que se justifiquem acusações falsas e sem provas contra Lula. “O doutor Emilio Odebrecht prestou depoimento aqui há poucos dias e disse que jamais tratou com o presidente Lula de qualquer valor e de qualquer vantagem indevida. O depoimento de Emilio foi prestado com o compromisso da verdade e colide frontalmente com o depoimento hoje prestado pelo ex-ministro Palocci na condição de co-réu”, disse Cristiano Zanin, advogado de Lula.
A defesa vem usando a estratégia de contestar o conteúdo de depoimentos de pessoas ligadas a Lula, usando depoimentos de outros delatores – como Marcelo Odebrecht e o pai dele, Emilio Odebrecht. Os depoimentos, porém, confirmam, grande parte do que Palocci disse, embora apresentem uma contradição. Em depoimento prestado à Procuradoria-Geral da República em dezembro do ano passado, o empresário confirmou que recebia pedidos de dinheiro de Lula para ajudar nas campanhas. (AG)