O setor de energia vem se atualizando já há alguns anos e ganhando investimentos no mundo todo. O Brasil, que não fica atrás desses avanços, se destaca desde muito cedo, principalmente por receber uma série de novas tecnologias focadas no aproveitamento de energias renováveis.
Entre as aplicadas no País, estão: a biomassa da cana (representando 19,1%), a maior delas, seguida pela hidráulica (com 12,6%), lenha e carvão vegetal (8,9%), além de outras (7,7%) como a solar – que deve aumentar exponencialmente nos próximos anos. Mas a pergunta que fica é: será que todas são eficientes e adaptáveis no Brasil?
A vocação energética de cada país depende de condições climáticas e físicas específicas. Segundo o professor dos cursos de Engenharia Elétrica e Engenharia de Energia da UP (Universidade Positivo), José Frederico Rehme, é possível realizar um benchmarking para analisar o que está sendo usado aqui no Brasil e no exterior, mas sempre cuidando para não aderir a “modinhas”, como ocorre com a energia solar, por exemplo.
“Temos que fomentar o desenvolvimento de nossa indústria de painéis e inversores, especialmente com painéis solares orgânicos e não os feitos com silício, que são muito prejudiciais ao meio ambiente”, comenta.
Conforme José Frederico, os painéis orgânicos ainda têm custo mais elevado na comparação com o produzido em silício, mas a tendência em alguns anos é de que o painel orgânico conquiste mais espaço. “Fabricados a partir da matéria-prima que não é o elemento químico silício, mas o elemento químico carbono, que detém um ciclo mais curto, mais rápido de recuperação. Portanto, a transformação da eletrônica em uma estrutura baseada em materiais orgânicos, cadeias carbônicas, tende a ter menos impacto.”
A predominância na fabricação de painéis fotovoltaicos hoje é a partir do silício. “São necessários extrair toneladas de areia para obter apenas alguns quilos de silício, em um processo que envolve um alto consumo de energia do maquinário necessário como caminhões e tratores. Depois que um painel está fabricado, parece muito verde o seu uso, mas a sua construção deixa uma pegada ecológica bastante grande”, pondera o professor.
Em duas situações específicas, José Frederico aponta que o uso do painel apresenta vantagens. “Em locais onde a gente quer realmente fazer a cobertura, nos telhados. Se eu quero impedir a entrada de chuva e sol, o telhado é o local adequado para se instalar painéis fotovoltaicos. Também em regiões desérticas em terras onde não se consegue produção de alimentos ou de energia de forma adequada, onde a luz do sol não é extremamente importante para o desenvolvimento daquela localidade”, acrescenta.
O professor exemplifica que os painéis solares não devem ser usados em áreas onde há produção de alimentos. Um exemplo é nas plantações de cana-de-açúcar. “Essa energia solar que incide sobre a Terra faz as plantas crescerem. Uma fazenda de cana-de-açúcar, que depois vai se transformar em alimento ou álcool, que depois vira energia para movimentar os nossos carros. De onde que a cana cresce? Ela absorve CO². Ela sequestra carbono para crescer. Ela recebe também a energia solar e, assim, a cana num ciclo de algo em torno de um ano fica transformando essa energia e esse CO² em outra forma de energia. Se a gente cobrir a plantação de cana com painéis fotovoltaicos, nós vamos obter energia fotovoltaica. Energia elétrica a partir da luz do sol. Só que essa mesma energia que está sendo transformada por nós por painéis em energia elétrica deixou de alimentar ou deixou de permitir o crescimento da cana e, portanto, não vai haver cana, não vai haver álcool.”
No Brasil, o histórico do uso de energias renováveis é muito antigo, sendo considerado um país com grandes possibilidades nesse tipo de energia, mantendo o investimento em programas como o Proálcool, além da busca por aproveitamentos hidrelétricos expressivos. No ano de 2002, por exemplo, as fontes eólicas e solar ganharam impulso com o Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas) e também, acelerando essa realidade, o País conta com o Renovabio – Política Nacional de Biocombustíveis. Todos esses programas são alinhados com as NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas), realizadas pelo Brasil no Acordo de Paris, em 2015, e com a agenda 2030 do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).
O que são fontes de energia renovável?
Uma fonte renovável é aquela que pode ser “recomposta” no tempo do homem, ou seja, em algumas dezenas de anos, como a eólica, a solar ou a biomassa. Muito diferente das fósseis, que precisam de milhares ou milhões de anos (tempo geológico) para serem transformadas na natureza, como o petróleo e seus derivados, o gás natural ou a energia nuclear.
Tradicionalmente, as energias renováveis são a hidráulica, a eólica, a solar (fotovoltaica, heliotérmica e os coletores solares – que transformam a energia do sol em água quente), as oceânicas (energia das ondas, marés ou correntes) e a biomassa (cana, florestas energéticas, resíduos urbanos, agropecuários ou industriais).