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Economia Os “dias de rico” dos brasileiros na Argentina chegaram ao fim; entenda o que aconteceu

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De fato, a Argentina baratíssima para o turista, como ocorria nos últimos anos, quando o brasileiro costumava viver “dias de rico”, já não existe. (Foto: Reprodução)

O show de tango costuma ser um programa “obrigatório” na primeira visita turística a Buenos Aires. Mas quase ficou de fora da viagem do pedagogo Bruno Pontes e da enfermeira Sabrina Rosário, casal de Resende, no Rio de Janeiro, por causa do preço da entrada, na casa dos R$ 700 por pessoa.

Para não deixar de ver o show, o casal teve de pesquisar opções e achou um por R$ 500 para cada, valor que se adequava mais ao orçamento da viagem. Se estivessem viajando em 2023, porém, eles provavelmente gastariam metade, ou menos, desse valor.

E a entrada para o show não foi o único susto dos dois na Argentina: eles já gastaram R$ 15 em um refrigerante de 600 ml e R$ 35 com transporte por aplicativo do bairro de Palermo ao da Recoleta, num trajeto diurno que, garantem, sairia metade do preço no Brasil.

“O que mais me assustou foi a comida, que não esperávamos que fosse tão cara. Tem de ser esperto e pedir comida que sirva os dois. Ou pedir uma cerveja e petiscar, o que é mais barato”, diz o pedagogo, que já acompanhava pelas redes sociais vídeos de brasileiros relatando o aumento dos preços na Argentina.

A turista Célia Figueiredo, do Rio de Janeiro, estava em um cruzeiro e desembarcou em Buenos Aires pela primeira vez, com o filho. Um dos almoços eles fizeram no London City, famoso “café notável”, declarado patrimônio da cidade, na icônica Avenida de Maio. O programa pesou no bolso: um prato de macarrão para dois, com uma água mineral e uma saborizada, totalizou R$ 246.

“Estou achando tudo muito caro. Com esse valor, a gente come melhor no Brasil. Não é real aquela ideia de que a Argentina é barata”, diz a empresária.

De fato, a Argentina baratíssima para o turista, como ocorria nos últimos anos, quando o brasileiro costumava viver “dias de rico”, já não existe. Hoje, é raro sentar em um restaurante sem requintes na Argentina e pagar menos do que 13 mil pesos (o equivalente a cerca de R$ 72) em um prato de comida com bebida sem álcool. Com vinho, o preço sobe pelo menos 11 mil pesos (ou mais R$ 61).

“Pagamos R$ 85 em um hambúrguer e R$ 20 numa água”, diz a servidora pública Ana Paula Oliveira, de Brasília, que tirava foto com os filhos diante da Casa Rosada, sede da presidência argentina. “Já vim em várias oportunidades e era muito diferente, tudo mais acessível. Acabamos de ir ao Uruguai e estamos achando Buenos Aires mais cara do que Montevidéu”, afirma.

Uma corrida de 5 km com transporte por aplicativo durante uma manhã de sábado em Buenos Aires está saindo por cerca de 5 mil pesos (R$ 28), mas numa madrugada pode passar de 19 mil pesos (R$ 105).

Quanto aos vinhos, o Angélica Zapata, vinho bastante procurado por brasileiros, está saindo por algo como 42.700 pesos (R$ 237). Já o El Gran Enemigo, também famoso entre os brasileiros, custa hoje 60.500 pesos (R$ 336). Ainda estão mais baratos que comprar no Brasil, mas esses preços já foram muito mais vantajosos. Em novembro de 2023, eram encontrados por R$ 131 e R$ 257, respectivamente.

Nos “kioscos”, lojinhas de guloseimas vistas em muitas esquinas da cidade, um refrigerante de 500 ml está em 1.700 pesos (R$ 9,50) e uma água ou um alfajor, em 1.200 (R$ 6,50). Já numa cafeteria, um cafezinho sai por 2.500 pesos (R$ 14), o café com leite, 4.000 (R$ 22), e uma unidade das famosas medialunas, os croissants argentinos, 1.400 (R$ 8).

Dono de uma agência de turismo receptivo que vende passeios e faz traslados em Buenos Aires, o brasileiro José Veras conta que não foi somente o show de tango que aumentou em dólares. Uma visita a uma vinícola na província de Buenos Aires passou de US$ 50 em outubro para US$ 73 atualmente.

Segundo ele, os turistas brasileiros não estão desmarcando viagens, mas acabam gastando menos dinheiro. “Muita gente opta, por exemplo, por não ir a um show de tango, por achar caro. Em vez disso, saem para jantar”, relata, sobre algumas das mudanças que observou nos últimos meses.

Os aumentos de preços não preocupam somente turistas, mas também os empresários do setor. “Alguns aumentos aqui não têm sentido. E isso traz um desafio muito grande para os empreendedores, para os empresários, autônomos que vendem serviços e passeios na Argentina”, diz a sócia de Veras, Mariel Ramos, também brasileira.

“Às vezes a gente vende um pacote e, quando vai fazer o pagamento, a precificação não fecha com o valor que tínhamos calculado de custos do serviço”, diz ela. “Então para dar certo, é preciso ter muito volume ou muita precaução para não ter um grande prejuízo.”

O encarecimento para o brasileiro é resultado das mudanças econômicas na Argentina, mas também reflete a desvalorização do real, diz o economista argentino Camilo Tiscornia, diretor da consultoria C&T Asesores Económicos.

O presidente argentino Javier Milei conseguiu diminuir a enorme brecha que havia entre o valor oficial do peso e a moeda negociada no mercado paralelo de câmbio: antes, o dólar oficial, cuja compra é controlada na Argentina, era 300 pesos, enquanto paralelo era vendido a 750. Hoje, o oficial está pouco mais de 1.000, e o paralelo em 1.200.

“Antes, o turista trocava dólares no mercado paralelo e comprava produtos cujos valores estavam alinhados ao câmbio oficial”, diz Tiscornia. “Essa diferença fazia com que a Argentina fosse muito barata para o estrangeiro.”

O efeito também encarecia a viagem dos argentinos para o exterior, algo que hoje em dia se inverteu. A quantidade de turistas que foram ao Brasil saindo do Aeroporto Internacional de Ezeiza, na Grande Buenos Aires, e do Aeroparque Jorge Newbery, na capital, aumentou 12,3% em um ano, e a média de estadia desses viajantes aumentou 10,5%, de acordo com dados oficiais argentinos de novembro.

“Como há mais confiança na política econômica do governo, a brecha entre os tipos de câmbio diminuiu muito”, diz o economista. O resultado foi um peso fortalecido e uma Argentina com inflação em dólares, apesar da desaceleração da inflação na moeda local, que retrocedeu de 25,5% em dezembro de 2023 para 2,4% em novembro. (Estadão Conteúdo)

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https://www.osul.com.br/os-dias-de-rico-dos-brasileiros-na-argentina-chegaram-ao-fim-entenda-o-que-aconteceu/ Os “dias de rico” dos brasileiros na Argentina chegaram ao fim; entenda o que aconteceu 2025-02-08
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