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Os Estados Unidos oferecem uma recompensa de 15 milhões de dólares para quem capturar o presidente da Venezuela Nicolás Maduro

Maduro também comemorou a chegada ao pais de 500.000 vacinas Sputnik-V, da Rússia, um de seus principais aliados comerciais. (Foto: Reprodução)

Numa decisão sem precedentes envolvendo países latino-americanos, os Estados Unidos acusaram nesta quinta o governo venezuelano de ter atuado nos últimos 20 anos como “um cartel” que colaborou, participou e promoveu ações de terrorismo e narcotráfico, incluindo o país numa lista integrada, entre outros, pelo Irã. A acusação foi feita pelo secretário de Justiça americano, William Barr, que informou ainda o pagamento de uma recompensa de US$ 15 milhões para quem colaborar com uma eventual captura do presidente Nicolás Maduro, considerado pelo governo Donald Trump o “líder do cartel”. No total, os EUA ofereceram US$ 55 milhões a quem ajudar a prender cinco membros e ex-membros do governo chavista mencionados na denúncia penal, que, no total, inclui 14 nomes.

Um dos citados é o deputado da Assembleia Nacional Constituinte e militar reformado Diosdado Cabello, considerado o número 2 da autoproclamada revolução bolivariana, por quem o governo americano ofereceu US$ 10 milhões. Na mesma categoria está o general reformado Cliver Alcalá, que disse ao site argentino Infobae estar disposto a entregar-se às autoridades colombianas. Ontem, o secretário de Justiça americano assegurou que os EUA contam com a colaboração da Colômbia para redobrar a ofensiva contra o regime chavista.

Em meio a pedidos feitos informalmente por autoridades da União Europeia (UE), entre outros, para aliviar as sanções ao governo e empresas estatais da Venezuela aplicadas pelo Tesouro americano, a denúncia é uma clara resposta de que Trump, em meio à pandemia do coronavírus, avança no sentido exatamente contrário. A denúncia penal não poderá ser derrubada por um próximo governo, caso o atual presidente não seja reeleito.

Se Maduro for preso, poderia ser condenado à prisão perpétua, afirmou o secretário de Justiça.

“Desde 1999, a Venezuela deu refúgio a narcotraficantes, autorizou a operação de barcos e aviões que levavam drogas aos EUA… Maduro é o líder do cartel”, assegurou Barr.

A denúncia provocou a reação imediata de adversários do presidente venezuelano, entre eles o ex-policial Iván Simonovis, exilado nos EUA desde 2018 depois de ter passado 14 anos preso, acusado pelo governo de Hugo Chávez (1999-2012) de ser responsável pelas mortes ocorridas horas antes do golpe de Estado de 11 de abril de 2002. Simonovis publicou uma foto do ex-ditador panamenho Manuel Noriega no momento de sua detenção e afirmou que “o que antecedeu esta foto foi uma ordem de captura em 1984”.

Entre colaboradores do presidente da Assembleia Nacional (AN) não reconhecida pelo governo, Juan Guaidó, a sensação foi de profunda satisfação.

“Isso é um giro de 180 graus. Trata-se de uma denúncia penal, implica alerta vermelho da Interpol e colocar o governo Maduro entre os governos que promovem o terrorismo no mundo”, enfatizou um colaborador muito próximo de Guaidó.

Já o chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, rebateu, afirmando que as acusações eram “infundadas” e buscavam angariar votos para Trump entre os exilados venezuelanos na Flórida.

Na visão do especialista em relações internacionais argentino, Juan Tokatlián, a ação dos EUA foi, de fato, “um ato sem precedentes em nossa região”.

“Está sendo implementado um bloqueio tácito à Venezuela. A estratégia é asfixiar o governo Maduro”, afirmou o especialista.

Os críticos da denúncia insistem em que sanções não derrubam governos e apontam altos funcionários de origem cubana como o diretor para o Hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Mauricio Claver-Carone, como os cérebros por trás da ofensiva.

“Hoje temos pelo menos quatro cubanos assessorando Trump sobre Venezuela. Isso explica muita coisa. O Conselho de Segurança Nacional assumiu o comando, e o Departamento de Estado perdeu espaços de poder nesse assunto”,  comentou um diplomata latino-americano que atua em Caracas.

O ministro da Defesa venezuelano, general Vladimir Padrino López, foi acusado, entre outros, de integrar o “cartel venezuelano” e de cobrar milionárias propinas para liberar o espaço aéreo venezuelano para voos de grupos narcotraficantes, em muitos casos a caminho dos EUA. Já outros funcionários importantes do governo, como a vice-presidente Delcy Rodríguez, não foram mencionados. Opositores de Maduro especulam com outras investigações paralelas, por exemplo, sobre o contrabando de ouro, que poderiam envolver funcionárias como a vice. Também chamou a atenção que nos casos de Padrino López e do presidente da Corte Suprema de Justiça, Maikel Moreno, não foram oferecidas recompensas. Esta diferença, afirmaram fontes opositoras, poderiam abrir uma disputa dentro do governo e uma onda de suspeitas sobre eventuais negociações dos funcionários mais poupados com o governo americano.

Coronavírus no país

Em outra frente, os Estados Unidos também alertaram que a pandemia do novo coronavírus é uma ameaça à Venezuela e à região, já que o sistema de saúde do país está em colapso e a maioria da população, sem acesso contínuo a água e sabão. A Venezuela confirmou nesta quinta seu primeiro morto pelo novo coronavírus.

“A situação na Venezuela é extremamente nefasta. Se o país não fizer frente contra a Covid-19, no futuro, ela irá para o Brasil, Colômbia e a região ao redor, assim como estamos vendo com a crise dos refugiados”, disse a subsecretária do Estado americano para Cuba e Venezuela, Carrie Filipetti, em uma videoconferência.

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