Trabalhadores dos Correios decidiram entrar em greve, por tempo indeterminado, a partir da meia-noite deste domingo para segunda. A categoria contesta, por exemplo, a não realização de concursos públicos desde 2011, para a reposição de postos de trabalho perdidos, e a “insistência” por parte da empresa para que funcionários aceitem ingressar em planos de demissão voluntária, que ganharam ênfase nos últimos anos, segundo a Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios, Telégrafos e Similares).
É esperada a adesão dos 36 sindicatos filiados, em todos os Estados, “contra a retirada de direitos dos trabalhadores, as demissões e a privatização dos Correios”. “Não há nenhum impedimento para a realização de um novo concurso, provocando a queda na qualidade dos serviços da estatal”, disse a federação, por meio de sua assessoria de imprensa.
“A empresa entende que é um direito do trabalhador. No entanto, um movimento dessa natureza, neste momento, serve apenas para agravar ainda mais a situação delicada pela qual passam os Correios e afeta não apenas a empresa, mas também os próprios empregados”, afirmou à empresa, por meio de sua assessoria.
Uma redução de quase 20 mil funcionários foi conduzida pelos Correios (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos) nos últimos cinco anos. O quadro caiu de 125,4 mil empregados em 2013 para os atuais 106 mil. A força de trabalho está sendo adequada, diz a companhia, com investimento em “automação da triagem e em inovações tecnológicas para melhorar os processos internos e aumentar a qualidade dos serviços prestados”.
Segundo a empresa afirma, a maioria dos desligamentos foi provocada pela adesão de funcionários ao Programa de Demissão Incentivada.
Para os sindicatos que representam os funcionários da empresa, o corte de pessoal é uma tentativa de “sucateamento”, com o objetivo de manchar a imagem dos serviços prestados e levar a estatal a um processo de privatização.
A Fentect defende que, para não comprometer a qualidade na prestação do serviço, os Correios deveriam ter hoje um quadro de 140 mil funcionários.
Em sua resposta, os Correios afirmam que “a empresa não está sendo sucateada” e que “a atual gestão trabalha para recuperar e fortalecer os Correios”, com a adoção de uma nova política comercial, “que permite maior participação dos Correios no segmento de encomendas”
“A gente não tem condição de afirmar se essa é uma intenção ou não [de privatizar os Correios]”, diz Sandro Cabral, engenheiro com pós-doutorado em administração que é professor de estratégia do Insper. “A principal questão como contribuinte é: essa empresa, seja pública ou privatizada no futuro, vai fazer frente à nova realidade de comércio eletrônico? Esse tipo de mão de obra que os Correios têm está preparada para essa realidade? Não é só número de funcionários, é competência também”, afirma.
Cabral diz entender que é necessário avaliar os prós e contras, com bastante transparência, ao considerar a privatização de uma empresa que presta um serviço social.
“Se você quebra o monopólio estatal, favorece a competição e passa essa empresa para algum grupo que é especialista no ramo, sem as amarras do setor público, podendo demitir, podendo contratar, estando livre de influências políticas. Pode ser uma opção a mais para o consumidor, ele pode escolher como vai mandar a carga. Essa competição pode ser benéfica”, explica.
“Por outro lado, a gente não pode esquecer que os Correios cumprem uma função social muito importante. Eles entregam correspondências em áreas remotas que uma empresa privada talvez não se interessasse em atender. Uma privatização poderia ser ruim para esse tipo de usuário, caso esse processo de privatização não venha acompanhado de uma estrutura de regulação. Privatização não resolve todos os problemas.”