No Reino Unido, uma família virou notícia depois que uma criança de 11 anos gastou mais de R$ 30 mil no cartão dos pais na plataforma de jogos “Roblox” em julho. A história contada por Steve Cumming, de 72 anos, chocou muita gente e até fez a plataforma estornar o valor. Mas o nome da empresa aparece na fatura de muitas famílias, em proporções menores é claro, ao redor do mundo.
No Brasil, as transações em dinheiro no “Roblox” também acontecem. Renato Neves, de 14 anos, passa, em média, oito horas por dia na plataforma de jogos. Ele joga “Obby’s”, de simulação de parkour, e outros jogos de carros, e já gastou R$ 400 comprando itens limitados, daqueles que só ficam disponíveis por um tempo, sem segunda chance. “Sei que, no futuro, irão ficar caros e raros”, ele diz.
Deborah Soares Viggiano Nogi, de 37 anos, e a filha, Anna Júlia Viggiano Nogi, de 7, também gastaram cerca de R$ 400 com Robux (nome da moeda usada na plataforma). “A Anna costuma comprar acessórios para o avatar e itens de jogos. Ela usa o dinheiro que ganha no dia das crianças e aniversário. Às vezes, compramos sem ser o dinheiro dela quando tem algum evento especial no jogo”, conta a mãe.
Os gastos com Robux aumentaram na pandemia, quando a menina passou a jogar mais intensamente: nos últimos meses, foram 10 horas diárias no Roblox, com amigos, sozinha e com a mãe.
O que se compra com o Robux não aumenta a performance nos jogos, mas deixa a experiência mais única. Os jogadores costumam comprar roupas, acessórios, novos rostos para os personagens, danças, movimentos, equipamentos e todo tipo de penduricalho para deixar o ambiente personalizado.
Em alguns jogos, é possível comprar mais do que em outros. Em “Adopt me!”, um dos mais famosos, dá para gastar decorando a casa e customizando os pets, por exemplo. As oito, dez e até 12 horas por dia no Roblox também têm a ver com Robux. Dá para ganhar a grana virtual realizando algumas tarefas, cumprindo desafios e até criando cenários no jogo.
Quando o dinheiro é demais
Algumas transações são autorizadas pelos pais, outras acontecem por uma combinação cara de fatores: crianças querendo comprar, jogo querendo vender, cartão de crédito cadastrado na plataforma e falta de controle.
Segundo Guilherme Farid, chefe de gabinete do Procon de São Paulo, o serviço registrou 24 pedidos de ajuda por gastos excessivos no cartão com o Roblox feito por crianças e adolescentes sem supervisão dos responsáveis.
O coordenador financeiro Rodrigo Bernardo, 40 anos, é dos pais que levou um susto ao receber SMS do banco. Seu filho de seis anos, Samuel, gastou R$ 750 comprando 22.500 Robux. Isso aconteceu em março.
O chefe de gabinete do Procon-SP disse que reclamações com a do Rodrigo têm crescido no estado. 20% dos pedidos de ajuda registrados no órgão foram feitos em setembro. O Procon notifica a empresa e alerta sobre a situação. Segundo Farid, em boa parte desses casos, o Procon tem conseguido estorno ou redução do valor.
As maiores críticas de pessoas nessas condições é a uma suposta falta de clareza, na plataforma, sobre o valor dos itens comprados e à dificuldade de conseguir contato com a empresa.
“Na hora do pagamento, deveria aparecer bem grifado o valor, com uma fonte mais visível. Tem que aparecer na tela porque, quando veio a solicitação de pagamento, não tinha informação de valor. E é muito difícil o contato com eles, não tem telefone ou outro meio para conversar”, relata Bernardo.