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Economia Os índices da inflação estão cada vez menores, mas quem vai ao supermercado não tem essa percepção

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O IPC-S foi divulgado pela Fundação Getulio Vargas. (Foto: Freepik)

A inflação caiu ao seu nível mais baixo em 20 anos em 2017, mas, no bolso do brasileiro, os preços ainda pesam, e a sensação é de uma piora na qualidade de vida. Apesar da desaceleração do IPCA (índice oficial de inflação), o consumidor, ao fazer as compras de mês, tem a impressão de que tudo está mais caro. Essa percepção existe, principalmente, porque o desemprego alto mantém o orçamento de muitas famílias apertado, e a cesta de consumo varia de lar para lar. Como alguns preços ainda se mantêm nas alturas – combustíveis, planos de saúde e escola particular -, quem tem esse tipo de gasto não sente o alívio. E a queda de 5% nos preços dos alimentos consumidos em casa, que abocanham um quarto do orçamento das famílias, nem de longe compensa a alta de 23,5% acumulada nos dois anos anteriores.

“Vivemos um desemprego muito grande. Há pouca renda disponível. Apesar dos preços menores, isso torna o consumo impossível. Para o bolso dessas pessoas, a sensação é que tudo está mais caro. Tem gente com dificuldade de comprar o básico”, disse ao jornal O Globo o economista do Ibre/FGV, André Braz.

Não é para menos que os consumidores reclamam quando vão ao supermercado. Do café da manhã ao almoço, nos últimos três anos não houve qualquer alívio: o bife, o feijão com arroz e o ovo estão mais caros, assim como o café solúvel, o leite, o pão, a manteiga e a margarina. Sem falar em combustíveis, passagens de ônibus, IPVA e IPTU, que também encareceram.

Itens essenciais

Os itens consumidos com maior frequência e os que são impossíveis de serem cortados ou substituídos são, normalmente, os que balizam a sensação de inflação, explica Sérgio Almeida, especialista em economia comportamental e professor da USP:

“Pessoas que usam carro próprio todos os dias são mais afetadas pelo sobe e desce do preço dos combustíveis, enquanto quem usa transporte público é afetado pelo valor do bilhete de ônibus. O tomate é algo difícil de ser substituído, então também é um bom balizador dessa percepção da variação de preços. É como se a inflação do sujeito fosse quase igual à da passagem de ônibus, do tomate, do feijão…”

Nos últimos três anos, a inflação média geral acumulou alta de 21%. E, entre os 373 preços pesquisados pelo IBGE, 150, ou seja, 40%, subiram acima disso. Apenas 25 tiveram deflação. E, com a experiência de mais de duas décadas desde o fim da hiperinflação, o brasileiro adquiriu memória de preços: sabe que alguns produtos hoje podem até estar mais baratos do que em 2017, porém ainda estão mais caros do que há alguns anos.

“As donas de casa, que até abordaram o ministro [Henrique] Meirelles para reclamar um dia desses [quando o ministro da Fazenda cortou caminho por um supermercado em Botafogo, em visita ao Rio no começo do mês], até podem perceber que os preços caíram, depois de muitos meses de alta, desde meados de 2015 e ao longo de 2016. Mas ainda estão altos em relação ao passado”, observou o economista da PUC-Rio Luiz Roberto Cunha.

O preço médio do quilo de arroz, por exemplo, caiu 10,9% ano passado, mas, em relação a 2014, está 13,5% maior. O mesmo ocorre com o feijão-carioca, que caiu 46% em 2017, mas que em três anos acumula alta de 3%. O preço do frango inteiro, mesmo com a queda de 8,7% no ano passado, está 11,2% superior ao de 2014.

A distância entre a percepção do consumidor e os índices de inflação pode ser medida. Em dezembro, quando o IPCA encerrou o ano em 2,95%, a expectativa de inflação do consumidor medida pela FGV era o dobro: 5,8%.

Pedro Costa Ferreira, pesquisador e porta-voz do Indicador de Expectativa de Inflação da FGV, explica que o descolamento entre esse índice e o IPCA é histórico. Principalmente porque a inflação oficial medida pelo IBGE é uma grande cesta de produtos — hoje são 373 — que nem sempre condizem com a realidade das famílias.

“Estamos falando de uma grande média geral, enquanto cada lar tem a sua própria inflação, pois consome produtos e serviços específicos. Isso vale para muitos outros países.”

Mais caro

Almeida, da USP, observa que as pessoas têm naturalmente a tendência de dar maior ênfase ao que está mais caro, mesmo quando há mais produtos abaixo da média geral da inflação. Ele reforça que há uma incompreensão do que o índice representa:

“Essa cesta pesquisada pelo IBGE, por exemplo, não é representativa para a classe média alta, cujos gastos incluem viagens ao exterior, cinema e teatro, que têm um peso muito maior para elas. Essa inflação não é a inflação de todo mundo.”

A população que serve como referência para o cálculo do IPCA são famílias com rendimento mensal familiar entre um salário-mínimo (R$ 937) e 40 salários-mínimos (R$ 37.480).

A tendência, no entanto, é que a percepção de inflação do consumidor continue caindo nos próximos meses e fique mais próxima do índice real, porque os preços estão mais estáveis:

 

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https://www.osul.com.br/os-indices-de-inflacao-estao-cada-vez-menores-mas-quem-vai-ao-supermercado-nao-tem-essa-percepcao/ Os índices da inflação estão cada vez menores, mas quem vai ao supermercado não tem essa percepção 2018-02-18
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