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Os nascidos entre 1995 e 2010 estão desenvolvendo aversão a publicar fotos, uma tendência conhecida como “feed zero”

Para jovens nascidos entre 1995 e 2010 publicar imagens é coisa do passado. (Foto: Freepik)

Uma dos comportamentos mais comuns em redes sociais é postar fotos – foi assim que nasceram termos como “selfie” (autorretrato) e “biscoito” (foto que busca elogios). Mas a geração Z está começando a mudar isso. Os jovens nascidos entre 1995 e 2010 estão desenvolvendo aversão a publicar fotos, uma tendência conhecida como “feed zero”.

Entre os millennials (nascidos entre 1982 até 1994), as fotos são parte da cultura digital: Fotolog, Orkut, Facebook e Instagram estão entre os serviços que tinham imagens como parte importante da experiência. Mas algo mudou na geração seguinte, que relata baixa autoestima, perfeccionismo estético, vergonha e até preguiça, como justificativas para passar em branco nas plataformas atuais.

Existe também a aversão a super exposição. A Gen Z é considerada a primeira geração de ‘nativos digitais’, ou seja, em sua maioria, não tiveram que aprender a lidar com as redes sociais, já que as principais plataformas foram criadas ao passo que cresciam. A presença excessiva dessas ferramentas pode estar contribuindo para um comportamento mais discreto.

“Eu acredito que o principal ponto que me faz não querer postar nas redes sociais é a sensação de uma exposição muito grande. Meu Instagram nunca foi como o de algumas pessoas em que só são aceitas pessoas bem próximas. Sempre aceitei muitas pessoas, mesmo com o perfil privado, e não necessariamente pessoas super próximas. Sinto que isso acaba me privando um pouco de postar, por vergonha ou receio de estar me expondo para quem que não tenho um contato íntimo”, conta Rafaela Paredes. A estudante de 20 anos não tem nenhuma publicação em seu perfil do Instagram.

Em entrevista à rádio americana NPR, Kim Garcia, gerente de estratégia e pesquisa cultural da Meta, comentou sobre o comportamento da geração Z.

“Eles têm uma aversão sobre deixar ‘pegadas digitais’. Crescer em uma era em que tudo é tão público não dá a mesma liberdade de poder ser ‘esquisito’ ou se descobrir na internet, como a geração mais velha, os millenials, tiveram. Estamos vivendo uma saturação das redes”.

Alexandre Inagaki, consultor em redes sociais, lembra também que há uma maior consciência sobre o impacto negativo causado pela exposição nas redes. “Podemos falar desde cyberbullying até a ansiedade causada pela necessidade de validação de terceiros por meio de likes e comentários”, explica.

Problemas com autoestima

De acordo com uma pesquisa, realizada em 2023 pelo Panorama de Saúde Mental, jovens brasileiros de 10 a 24 anos apresentam baixos índices de autoestima.

Na pesquisa, 78% dos entrevistados relataram ter se sentido ‘feios ou pouco atraentes’ uma vez nas duas semanas que antecederam o estudo. Desses, 73% também relataram se sentir ‘pouco inteligentes’ e ainda, 45% afirmaram não ter saído com amigos no período.

Rafael Fabrizio, 18, que também não tem nenhuma foto publicada em seu perfil do Instagram, cita a pressão estética como um dos motivos do feed zero.

“Hoje em dia postar uma foto é um processo intenso. Tem que tirar, escolher, editar e eu não gosto de tirar fotos minhas. Além de preguiça, acho que tem uma certa pressão estética envolvida, também”.

“Se eu publicasse fotos no feed que ficassem lá, permanentemente, gostaria que fossem fotos visualmente bonitas, não qualquer uma, o que dá trabalho, por isso, prefiro não postar nada”, explica Rafaela. (AE)

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