Domingo, 24 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 22 de outubro de 2022
Ao mesmo tempo em que se prepara para o próximo campeonato mundial de surfe, na cidade de Nazaré, onde vive em Portugal, a brasileira Maya Gabeira se movimenta para que o documentário sobre a sua vida chegue a um grande número de pessoas. Ainda sem data para ser exibido em São Paulo, Maya fala sobre seus desafios na praia do audiovisual: “A gente não tem distribuidora. Quando é um filme independente, o sucesso demanda muito do envolvimento do time enxuto, que é o nosso no caso”.
Intitulado “Maya e a Onda”, dirigido por Stephanie Johnes, o filme já foi exibido em festivais no Rio e em Toronto, no Canadá, e agora estreia nos Estados Unidos, no dia 9, na abertura do Doc New York City Festival. Fala da infância à luta para ser reconhecida pelo Guinness Book e a Liga Mundial de Surfe como recordista de maior onda surfada por uma mulher.
O resultado despertou “muita emoção” em Maya, tanto por reviver o traumático acidente de 2013, em uma onda gigante que lhe impôs quatro anos de tratamento para reabilitação da coluna, quanto pelo tom intimista presente nos relatos de familiares e estrelas do esporte.
Ao lado da mãe, Maya está ainda desbravando negócios na área de cosméticos. Vai lançar o protetor solar Blue Aya sem plástico e feito à base de algas, urucum, açaí, zinco – com preocupação de preservar meio ambiente.
Machismo
Dona do recorde de maior onda surfada por uma mulher – um paredão de 22,4m – em Nazaré, Maya considera uma barreira invisível, mas sentida desde suas primeiras marolas, como seu grande adversário no esporte: o machismo.
A desigualdade de gênero é um dos temas abordados em “Maya e a Onda”. A carioca explica que o machismo foi o adversário mais difícil que enfrentou na carreira.
“Quando eu vi o filme pela primeira vez, um mês atrás, tive realizações sobre a minha vida e sobre a minha trajetória. Mas uma coisa fica clara: a minha maior dor, ou trauma, que tenho que superar, não é o acidente ou as ondas gigantes, é o preconceito que sofri. As porradas que tomei de certas pessoas, de certas empresas, as dificuldades de entrar em uma comunidade que eu queria fazer parte, mas não fui aceita. Isso deixou uma ferida que ainda estou trabalhando para superar”, afirmou.
“O acidente, as ondas gigantes, morrer dentro do mar, isso eu tinha aceitado desde os 17 anos de idade. Eu tinha certeza que ia tomar porrada, me quebrar, parar no hospital e fazer reabilitação. A outra parte eu não tinha noção, que era a desigualdade de gênero em todas as esferas da sociedade”, completou.
Sete anos antes de bater o próprio recorde, em Nazaré, Maya sofreu um grave acidente na praia portuguesa. Em função do filme, precisou rever as imagens daquele período, que constam na película, mas admite que prefere evitar.
“É uma fase da minha vida que não fico remoendo. Estou tendo que viver de novo por causa do documentário. Assisti pela segunda vez e falei para a minha diretora: ‘Cheguei no meu limite’. Preciso me poupar, pela minha saúde mental. Foram momentos muito complicados.”