Terça-feira, 07 de janeiro de 2025
Por Carlos Roberto Schwartsmann | 12 de agosto de 2021
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Até o ano de 2000 haviam 98 faculdades de medicina no Brasil.
Hoje existem 310! Isto nos torna os campeões do mundo! Ganharíamos a medalha de ouro!
Alunos sempre existirão, mas evidentemente temos que reconhecer que não há corpo docente qualificado para ensinar tantos! Tampouco hospitais. Tudo é deficiente! O grande dilema dos alunos de hoje: como aprender?!
Até o final do século passado, o Hospital de Pronto Socorro Municipal era referência de urgência em toda América Latina. Vinham fazer estágios estudantes e médicos de todos países do nosso continente.
Foi lá a primeira vez que ouvi um colega médico, tarde da noite, durante um período de calmaria e relaxamento, se dirigir ao estudante de medicina e perguntar: “’Rato’, qual a faculdade que tu estudas?”
Estranhei o termo, que não me pareceu pejorativo ou agressivo. Na verdade, até havia um sentimento paternalista e afetivo no questionamento.
Depois, na nossa sala de descanso, candidamente ele explicou: “Rato” é o estudante que, sedento de aprender a arte da medicina, dispende boa parte dos seus dias na frente de batalha do atendimento. Ele não escolhe o momento, nem o dia. Aparece nas horas mais impróprias, à noite, no sábado, no domingo, nas férias!
Obviamente, no começo o “Rato” é um mero observador, mas no decorrer dos dias ele começa a ganhar confiança e reconhecimento da equipe médica.
Ele ajuda de inúmeras maneiras: receitando, prescrevendo, evoluindo. Do curativo ao enfaixamento, da confecção da tala gessada até as injeções. No estágio final, como prêmio de aprovação ele poderá até auxiliar nas cirurgias e suturar. Isto é, costurar tecidos humanos. Um sonho!!
A pandemia acabou com as aulas práticas. Os estudantes de medicina foram extremamente prejudicados. Eles deixaram de ver, ouvir, tocar, palpar e examinar os pacientes!
Assim, é utopia imaginar que é possível aprender medicina por ensino a distância. Nesta arte é necessário tocar o paciente e sentir o seu calor, criar um vínculo de afeto, de compaixão e parceria.
Auscultar, percutir, puncionar uma veia, realizar um toque retal ou vaginal não pode ser feito por um computador!
Digo aos estudantes que estão voltando para as aulas práticas presenciais que só existe uma maneira de compensar o que foi perdido: É necessário voltar a ser um roedor: um “Rato” de hospital!
Diz o velho aforisma “o ensinamento pode ser coletivo, mas o aprendizado é individual”
Cada um cria o seu próprio caminho e sua própria formação!
Prof. Dr. Carlos Roberto Schwartsmann – médico e professor
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
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