Uma investigação encomendada pela Caixa Econômica Federal a escritórios externos indica que o presidente do banco, Gilberto Occhi, utilizou o cargo para atender interesses de políticos de siglas como o PP (Partido Progressista), do qual é integrante. Ele assumiu o comando da estatal em junho de 2016.
Os próprios dirigentes recém-afastados da instituição relataram, em seus depoimentos, interferências do executivo na gestão, com o propósito de favorecer integrantes de sua legenda, e alegavam que era necessário “tomar cuidado” com ele.
O então vice-presidente corporativo da estatal, Antônio Carlos Ferreira, um dos quatro afastados por suspeitas de envolvimento em corrupção, relatou que Occhi pediu no ano passado que ele recebesse o deputado Toninho Pinheiro (PP-MG) para tratar de operação da rede de supermercados Epa, de Minas Gerais.
Na época, a empresa pleiteava empréstimo da Caixa. Em caráter extra-oficial, Pinheiro afirmou que conseguiu ser recebido no banco e, depois do encontro, o dinheiro saiu.
Ferreira disse, ainda, que o presidente da Caixa tem relação estreita com o presidente nacional do PP, Ciro Nogueira (PI), e com o deputado Aguinaldo Ribeiro (PB). “Gilberto Occhi possui uma atuação nevrálgica com os deputados do PP, e os vices precisam tomar cuidado com isso”, declarou.
Deusdina dos Reis Pereira, que chefiava a área de Fundos de Governo e Loterias, reclamou que Occhi foi ao encontro do ex-presidente do PR Valdemar Costa Neto – condenado no processo do mensalão. Objetivo: pedir a vaga da executiva no alto escalão do bando para então repassar a um indicado seu.
O presidente da Caixa também teria negociado com Valdemar e com o atual ministro dos Transportes, Maurício Quintella Lessa (PR-AL), a indicação do então superintendente na Caixa Giovanni Alves para a Vice-Presidência Corporativa. O servidor, no entanto, foi afastado da função após surgirem suspeitas de envolvimento em corrupção e de vazamento de informações sigilosas. Ele nega o fato.
Alves trabalhava no banco como subordinado do ex-ministro e ex-vice presidente de Pessoa Jurídica Geddel Vieira Lima (MDB-BA), atualmente preso. No computador dele, foi encontrada planilha que vinculava transações do banco a uma série de padrinhos políticos.
A apuração independente foi encomendada pela Caixa ao escritório de advocacia Pinheiro Neto, com auxílio da empresa de investigação privada Kroll e da auditoria PwC, após a PF (Polícia Federal) e o MPF (Ministério Público Federal) descobrirem esquemas de cobrança de propina.
Outro lado
Procurado pela imprensa, Gilberto Occhi informou que não se manifestaria sobre o caso. O deputado federal Toninho Pinheiro disse que o valor obtido foi menor que o pleiteado e que não houve nada de irregular. A direção da rede Epa de supermercados também negou ter acionado o congressista. Valdemar Costa Neto, por sua vez, não comentou.