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Outubro rosa: mulheres que passam por tratamento oncológico sofrem disfunção sexual e assunto ainda é tabu

Falar sobre o assunto é fundamental, porque a saúde íntima da mulher deve ser considerada e desmistificada. (Foto: Freepik)

O número de mulheres que sobrevivem ao câncer de mama tem crescido e a expectativa de vida delas também vem aumentando. Consequentemente, as necessidades médicas deste público tornaram-se mais visíveis. Muitas mulheres sofrem, além da doença, os efeitos colaterais dos tratamentos. Embora a literatura reconheça que de 50% a 90% das sobreviventes de câncer de mama experimentam disfunção sexual após o tratamento, esse problema ainda é pouco discutido pelos médicos que atendem essas mulheres.

Pesquisas recentes apontam que somente um 1/5 dessas mulheres pede ajuda. Acima de 75% das mulheres com câncer de mama apresentam pelo menos um sintoma urogenital. Isso por que o câncer pode devastar a função sexual de uma mulher de inúmeras maneiras, tanto durante o tratamento quanto nos anos seguintes. A quimioterapia pode causar ressecamento e atrofia vaginal, por exemplo.

Cirurgias, como uma histerectomia ou mastectomia, pode privar as mulheres de sensações essenciais para a excitação sexual e o orgasmo. A radioterapia pélvica pode levar à estenose vaginal, encurtamento e estreitamento da vagina, tornando a relação sexual dolorosa, se não impossível.

Camila Gentile, sexóloga, palestrante e especialista em saúde íntima da mulher, afirma que além de todo o desconforto do tratamento e dos remédios fortíssimos, tristeza, estresse e problemas de imagem corporal podem extinguir qualquer sensação de desejo sexual.

No último ano, por exemplo, um estudo descobriu que 66% das mulheres com câncer experimentaram disfunção sexual, como problemas de orgasmo e dor, enquanto quase 45% das mulheres jovens sobreviventes de câncer permaneceram desinteressadas em sexo mais de um ano após o diagnóstico.

Essas descobertas ressaltam que as consequências podem ocorrer em todos os tipos de câncer, não apenas de mama ou ginecológico. A sexóloga afirma que existe, sim, como aliviar os sintomas. “Hoje temos no mercado uma série de produtos, lubrificantes, cremes, terapia com laser e até mesmo dispositivos, que auxiliam as mulheres que apresentam essas queixas de ressecamento, dor e falta de libido”, explica ao GLOBO.

“Falar sobre o assunto é fundamental, porque a saúde íntima da mulher deve ser considerada, desmistificar estes assuntos é cuidar da mulher como um todo, a felicidade da mulher, a autoestima somam, e muito, ao tratamento e prevenção”, afirma a especialista.

Prevenção

A informação é uma importante aliada quando o assunto é prevenção. Infelizmente, ainda há diversos mitos sobre a doença. O mastologista do Hospital São José, da Divina Providência, Caio Caloca Severo, explica alguns deles.

Mito número 01

“Somente mulheres com histórico familiar têm risco de desenvolver câncer de mama”

“Embora o histórico familiar seja um fator de risco, cerca de 85% dos casos de câncer de mama ocorrem em mulheres sem histórico familiar da doença. Outros fatores, como a idade, o estilo de vida e a exposição a hormônios, também influenciam no desenvolvimento do câncer.” explica Dr. Caio.

Mito número 02

“O câncer de mama só afeta mulheres mais velhas.”

“O risco de desenvolver câncer de mama aumenta com a idade, especialmente após os 50 anos. No entanto, mulheres mais jovens também podem ser acometidas pela doença, ainda que em menor proporção. Segundo dados do INCA, cerca de 20% dos casos são diagnosticados em mulheres abaixo dos 50 anos e aproximadamente 4% em mulheres abaixo de 40 anos.” revela o mastologista do Hospital São José.

Mito número 03

“Se eu não sinto dor, não preciso me preocupar.”

“Na fase inicial, o câncer de mama muitas vezes não apresenta dor ou outros sintomas evidentes. Por isso, o autoexame deve ser complementado pela mamografia, que é capaz de detectar lesões não palpáveis. A Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda fazer mamografia de rotina, anualmente, a partir dos 40 anos e sem uma idade limite exata, enquanto que o INCA e o Ministério da Saúde recomendam iniciar a partir dos 50 anos até os 69 anos e de forma bienal.” destaca Severo.

Sintomas e diagnóstico

O câncer de mama pode ser silencioso nos estágios iniciais, mas alguns sinais e sintomas merecem atenção, como:

– Nódulos palpáveis na mama ou axila;

– Alterações no formato ou tamanho das mamas;

– Secreção de líquidos anormais pelos mamilos;

– Vermelhidão ou pele com aspecto de casca de laranja;

– Retração ou inversão do mamilo.

A mamografia é a principal ferramenta de diagnóstico precoce e, quando realizada anualmente, pode reduzir a mortalidade em até 30%. Dados revelam que o câncer de mama, quando diagnosticado precocemente, chega a 95% de chances de cura.

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