Por Redação O Sul | 2 de outubro de 2024
Susana Parks ficou encantada ao perder 18 quilos com o medicamento para obesidade da Eli Lilly, Zepbound. Mas agora que atingiu o peso desejado, ela tem perguntas: pode parar de tomar o remédio? E se parar, como manter a perda de peso?
“Não posso parar de uma vez ou vou recuperá-lo. Isso é claro”, observa Susana, de 60 anos, de Bend, em Oregon. “Devo diminuir a dosagem? Tomar a cada duas semanas em vez de semanalmente? Como manter”, questiona.
Essas perguntas estão se tornando comuns, avaliam especialistas em medicina da obesidade, à medida que mais pessoas perdem peso com medicamentos para obesidade. Alguns enfrentam dificuldades para pagar o remédio, têm problemas para encontrá-lo ou simplesmente não querem ficar mais tempo do que acreditam precisar.
Os médicos, ao receberem questionamentos do tipo, oferecem algumas orientações e também o que não podem afirmar.
O que acontece se eu parar de tomar os novos medicamentos para emagrecer após perder peso?
Especialista em perda de peso da Universidade de Washington, David Cummings recebeu essa pergunta de muitos pacientes. Ele explica que os fabricantes dos medicamentos realizaram grandes estudos em que as pessoas tomaram os remédios e depois pararam.
“Em média, o peso de todos retornou rapidamente”, disse Cummings.
Outras condições médicas, como níveis elevados de açúcar no sangue e lipídios, também voltam ao normal após melhorarem. Ele informa que, embora, em média, o peso seja recuperado, isso varia entre os indivíduos quanto à quantidade e rapidez com que isso acontece.
Ao ouvir isso, Cummings relata que alguns pacientes querem correr o risco de não precisa dos medicamentos, já que perderem peso suficiente. Ele afirma que alguns lhe dizem: “Serei o único. Só preciso de ajuda para perder o peso.” Até agora, no entanto, não viu pacientes que tenham conseguido.
Reduzir minha dosagem ajudará a manter o peso?
Os médicos afirmam que não têm dados que guiem uma resposta para essa pergunta. “Não foi estudado de forma sistemática”, esclarece Allison Schneider, porta-voz da Novo Nordisk, fabricante do Wegovy.
O medicamento é baseado na semaglutida, que a empresa também vende para tratamento de diabetes como Ozempic. O mesmo se aplica ao tirzepatide, vendido pela Eli Lilly como Zepbound para emagrecimento e Mounjaro para diabetes.
Quando os médicos oferecem conselhos, tendem a ser cautelosos. “Não existe uma solução mágica”, alerta Mitchell A. Lazar, da Universidade da Pensilvânia.
O que pode acontecer se eu experimentar com minha dosagem?
Susana não está interessada em continuar perdendo peso, já que entende que a perda de 18 quilos foi perfeita. Ela ficou grata por conseguir o Zepbound – seu médico, segundo ela, resistiu em prescrevê-lo, seu seguro não cobria e o medicamento estava em falta, levando-a a ligar para farmácias todos os meses para renovar a receita, pagando do próprio bolso.
Embora Lazar não esteja envolvido no tratamento de Suzana, ao ouvir sobre o caso, sugeriu que ela tentasse reduzir a dose ou “monitorar o que está comendo agora e tentar comer as mesmas quantidades após reduzir ou parar a dose”. Mas, o especialista acrescenta que isso pode ser difícil sem a ajuda do medicamento.
No momento, ela está ajustando a dose. Quando o peso caiu para 68 quilos – ela tem 1,73 m – decidiu tomar Zepbound a cada duas semanas, em vez de semanalmente, e informou sua médica, que “não teve opinião a respeito”.
Esse novo esquema também economiza dinheiro. Após uma semana sem o medicamento, ela percebe ficar com fome, e isso acontece previsivelmente. Até agora, tem funcionado – e o peso se manteve estável.
Caroline Apovian, especialista em perda de peso no Hospital das Mulheres de Brigham afirma que há uma lição aqui para as pessoas que lutam contra o peso.
“Ensina aos pacientes que isso realmente não está sob seu controle”, pontua ela, que costumava consultar a Novo Nordisk.
Isso significa que eu tenho que tomar Wegovy ou Zepbound para sempre?
Na maioria das vezes, os pacientes querem perder o máximo possível, mas não querem ficar presos ao medicamento pelo resto da vida, descreve Cummings. “A resposta adequada provavelmente é ‘para sempre'”.
Muitos pacientes expressam que isso soa como uma sentença de vida, e outros simplesmente não acreditam. Um estudo mostrou que mais da metade dos pacientes sem diabetes parou de tomar os remédios em um ano, mas cerca de um terço desse número recomeçou.
Diante dessas preocupações, os médicos enfatizam que a obesidade é uma doença crônica e, como hipertensão e outras do mesmo gênero, deve ser tratada por toda a vida. Mas persistem crenças de que a obesidade é diferente de doenças como hipertensão: a percepção é que o peso pode ser controlado por estilo de vida e força de vontade.
Há risco de perder peso demais com os medicamentos?
Os pacientes também querem saber se correm o risco de perder peso indefinidamente e ficar perigosamente magros. Isso é improvável, segundo especialistas.
Eventualmente, os pacientes atingem um platô, em que param de perder peso. Schneider disse que, nos testes do Wegovy, a perda de peso parou após cerca de 60 semanas.
A fome retorna quando isso acontece, disse a especialista Ania Jastreboff, de Yale, que está em conselhos consultivos da Novo Nordisk e Eli Lilly. Os desejos por comida também, mesmo que os pacientes ainda estejam tomando os medicamentos. Porém a pessoa comerá naturalmente o suficiente para manter o peso mais baixo.
