Pablo Marçal, candidato à Prefeitura de São Paulo, afirmou na tarde desse sábado (5) que não se arrepende de ter publicado em suas redes na noite de sexta (4) um laudo para acusar o adversário Guilherme Boulos (PSOL) de uso de drogas.
“Eu recebi e publiquei”, afirmou durante agenda no início da tarde. O candidato não explicou a origem do documento tampouco como o recebeu.
“Quem mentiu é quem tem que falar, eu só publiquei. A minha parte é publicar e eu não sei como que a Meta derrubou em poucos segundos.”
“Eu, Pablo, na minha rede social foi postado, eu não tenho nenhuma ligação com o laudo. Pode perguntar para o Tassio Renan, que é meu advogado, e checar com ele”.
Ele admitiu que conhece e é amigo do dono da clínica “Mais Consultas”, que consta no falso documento. O caso é investigado pela Polícia Federal e pela Polícia Civil. A Justiça reconheceu os indícios de falsidade e determinou a remoção do conteúdo de todas as plataformas.
Os advogados de Boulos entraram com ações na Justiça (criminal e eleitoral) pedindo a prisão do adversário na disputa Pablo Marçal e a cassação da candidatura dele à Prefeitura.
A filha do médico José Roberto de Souza, que aparece no documento usado por Marçal como o profissional que teria atendido Boulos após um suposto surto por uso de cocaína, afirma que a assinatura usada no documento é falsa e que o pai dela nunca trabalhou na capital paulista, especialmente na clínica “Mais Consultas”, no bairro Jabaquara, que consta no laudo.
“Nunca atuou nessa clínica. Meu pai trabalhava e atuava em Campinas. Ele morou lá a vida inteira. Ele era formado pela Unicamp e desde então atuou lá. Não tinha clínica em São Paulo. Eu fiquei sem entender nada, fui pega de surpresa. Fui comunicada pela babá das crianças que tinha Polícia Civil me procurando com investigadora para abordar essa questão de falsificação de documento com nome do meu pai”, afirma Aline.
Na data que aparece no documento publicado por Marçal, José Roberto de Souza estava debilitado, não atendia mais pacientes e estava em Campinas, diz a filha. O pai dela morreu em 2022 após lutar contra uma doença rara. Outro filho do médico disse que nesta época, ele ficou “completamente recluso”.
“Ele lutou uns três anos contra essa doença e ele tinha que ficar fazendo transfusão sanguínea. Vivia internado e no último ano [2022] estava muito debilitado, cansado. Ele estava com 82 anos e a doença prejudicou muito o meu pai. Em 2021 ele não estava atuando. Ele fazia tratamento em São Paulo ocasionalmente. Atender clinicamente em São Paulo nunca fez. Só Campinas e região. Nunca me falou de qualquer clínica daqui”, ressaltou Aline.
E complementou: “Ele só teve essa ligação em São Paulo por conta de mim. Eu fiz faculdade de medicina em São Paulo e eu continuei morando aqui. E quando vinha tratar a doença, ele ficava em casa. Meu irmão mais velho também fez a residência médica em São Paulo também. Só teve essa ligação mesmo. É falso esse documento. Ele não laudaria algo que não era especialidade dele”.
Após a morte, Aline fez como tatuagem a assinatura do pai, que é diferente da que está no documento apresentado por Marçal.
“Eu era muito ligada ao meu pai e ele sempre fez a mesma assinatura para tudo. Sempre era assinatura, e nunca fazia visto. Sempre assinou igual nos documentos dele, a vida inteira. E eu sempre gostei muito da assinatura, tanto que com a perda dele eu quis registrar essa assinatura em uma tatuagem na região da costela. Fiz ano passado, um ano após a morte. A assinatura [no documento de Marçal] é completamente diferente da dele”.
Ainda conforme Aline, a família está assustada com a situação e deve analisar se irá processar o candidato Pablo Marçal.
“Não entendo como foi cair o nome e CRM do meu pai. Não entendi até porque meu pai não estava ligado em questões políticas, nunca esteve. É descabível usar o nome de quem nem está mais aqui para se defender. Sempre foi uma pessoa íntegra. Não sabia nem mexer em computador. Já tinha 82 anos e não escrevia daquela forma. Foi o que eu e meus irmãos vimos. Não tem nada, zero perfil do pai ali [no documento]”.
“Meu irmão mais novo, que mora em Campinas e que sempre acompanhou meu pai nas internações, tem conversas de WhatsApp com meu pai nessa data que mostra o laudo do Marçal, e prova que ele [pai de Aline] estava em Campinas. Impossível ele estar em outros lugares. Ele estava em Campinas, na casa dele, na data que o laudo aponta. Na conversa, o meu irmão ainda fala: pai, vai descansar” , ressalta.
Boulos fez uma live logo depois que Marçal postou o suposto laudo. O candidato do PSOL informou que a postagem do concorrente é uma mentira e que pedirá à Justiça a prisão do adversário na corrida municipal e de Luiz Teixeira da Silva Junior (dono da clínica Mais Consultas), por falsificação de documento.
“Primeiro, o dono da clínica do documento que ele publica tem um vídeo com o Pablo Marçal. É apoiador dele”, diz Boulos.
“O parceiro dele [de Marçal] falsificou o documento, usando o CRM de um médico que faleceu há dois anos, para que ninguém possa ser responsabilizado como médico. Ele usa o CRM de um médico que está inativo desde 2022. Olha o nível que o cidadão chegou, falsificação de documento”, disse Boulos.
“O cidadão não tem limite. A um dia da eleição, ele inventa essa fake news. Agora, chegou num limite para ele. Estamos entrando com um pedido de prisão contra ele, na Justiça Criminal. Dele e do dono da clínica”, afirmou Boulos.
Em nota, a campanha de Boulos disse que o suposto laudo publicado por Pablo Marçal é falso e criminoso e que “ele responderá e arcará com as consequências em todas as instâncias da Justiça – eleitoral, cível e criminal”. As informações são do portal de notícias G1.