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Pablo Marçal: o ex-coach que embaralhou a disputa em São Paulo e virou alvo da família Bolsonaro

Por volta de 16h, a conta no Instagram não podia mais ser acessada. (Foto: Reprodução)

Diante de um ginásio lotado, Pablo Marçal tentou operar um milagre: fazer uma mulher em cadeira de rodas voltar a andar. Durante quase 10 minutos, o então coach assumiu papel de líder espiritual, orientando a mulher a se imaginar “dançando com o Senhor” e a repetir mantras como “eu aceito a cura”. Com o auxílio de dois homens, Marçal ergueu a mulher, insistindo para que ela encontrasse “força nos nervos” para caminhar, mas ela não conseguiu e quase foi ao chão.

“Concentra, tire esse estado de curiosidade”, insistiu Marçal, percebendo que o milagre não se concretizava. Após minutos de tentativas frustradas, ele devolveu a mulher à cadeira de rodas e, sem reconhecer a falha, perguntou: “Você se sente culpada?”, referindo-se ao acidente que a deixou sem os movimentos nas pernas.

Dono de uma fortuna declarada de R$ 169,5 milhões e um engajado exército de seguidores nas redes sociais — só no Instagram são 12,9 milhões —, Marçal se tornou conhecido por vender palestras e infoprodutos de autoajuda, com títulos sobre “como tomar o governo da sua própria vida” e “como fazer pelo menos 6 mil por mês do zero”.

O candidato conta que seu primeiro emprego formal foi em uma igreja, aos 16 anos, como operador de som. Depois, segundo pessoas próximas, ele trabalhou em uma companhia telefônica por um período de quase seis anos. Após, ele deu início à sua transição de carreira e conquistou o primeiro milhão com investimentos imobiliários em Goiás, participando da construção de diversos prédios, relatam aliados. Paralelamente, Marçal começou a ministrar treinamentos, sendo o primeiro deles o Método IP (MIP), um curso de inteligência emocional baseado em Programação Neurolinguística (PNL), que, segundo aliados, formou 145 turmas.

Inicialmente, os treinamentos eram presenciais, limitando o faturamento do ex-coach, mas com a migração para o formato online Marçal ampliou seus ganhos e adquiriu outras empresas, diversificando seus negócios. Hoje, conforme relatos de pessoas próximas, suas empresas de tecnologia, que oferecem automação de ferramentas de marketing digital e streaming de vídeos, são as mais valiosas de seu portfólio.

Nas últimas semanas, Marçal se dedicou a capturar o eleitorado bolsonarista da capital paulista que não se identifica com Ricardo Nunes. O prefeito é apoiado formalmente pelo ex-presidente e pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Para isso, Marçal passou a mimetizar Bolsonaro. Na convenção que oficializou sua candidatura, Leonardo Avalanche, presidente nacional do PRTB, repetiu o slogan “Deus, Pátria e Família”, utilizado na campanha de Bolsonaro. O ex-coach se refere aos seus filhos da mesma maneira que Bolsonaro, utilizando números para identificá-los.

O sucesso de Marçal em atrair parte do eleitorado bolsonarista sem o apoio do ex-presidente virou motivo de incômodo para o clã Bolsonaro, que passou a mirar sua artilharia em Marçal. O ex-presidente usou o seu canal no WhatsApp na última quinta para compartilhar um vídeo reunindo diferentes momentos em que Marçal fez declarações contrárias a ele, inclusive comparando-o a Lula. No Instagram, o ex-presidente também alfinetou o ex-coach ao reagir, com ironia, a um comentário em que Marçal dizia: “Pra cima, capitão. Como você disse: eles vão sentir saudades de nós”. Bolsonaro respondeu: “Nós? Um abraço”.

Sem jamais ter ocupado um cargo público, Marçal adota uma abordagem eleitoral que rompe com os padrões tradicionais. Embora tenha consultado renomados marqueteiros, decidiu não contratar ninguém para liderar sua campanha, convencido de que ele mesmo é a melhor pessoa para desempenhar essa função. O ex-coach faz questão de afirmar, sempre que pode, que é seu “próprio marqueteiro”.

O estilo do empresário chama a atenção até dos adversários, que se surpreendem ao receber mensagens do ex-coach no WhatsApp com feedbacks — alguns até positivos — sobre suas participações em entrevistas. Esse comportamento inusitado é parte da estratégia singular de Marçal, que, durante a pré-campanha, também procurou aconselhamento de políticos como o ex-presidente Michel Temer (MDB), o ex-governador João Doria (sem partido) e até Bolsonaro.

Embora aprecie a interação com todos, até mesmo com concorrentes, aliados de Marçal afirmam que ele dá ouvidos a poucas pessoas e geralmente segue a sua própria intuição. O ex-coach nega ter um estilo centralizador, afirmando que essa percepção é de quem não o conhece. “Eu treino delegação, sou profissional nisso. Uma cidade do tamanho de São Paulo precisa de gente competente em todas as áreas e eu sei recrutar, treinar e cobrar resultados”, afirmou ele.

 

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