Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 1 de maio de 2024
O câncer ainda é um diagnóstico associado a sofrimento e mudança na autoimagem.
Foto: ReproduçãoA queda de cabelo durante um tratamento de câncer é um dos momentos mais difíceis e um dos efeitos colaterais mais delicados para os pacientes. Isso ocorre porque muitos dos medicamentos utilizados na quimioterapia atacam, além das células tumorais, outras células saudáveis do corpo que se multiplicam rapidamente – como aquelas do folículo piloso, que fazem crescer os fios.
Isso resulta não só na perda do cabelo, mas de outros pelos do nosso corpo, incluindo cílios e sobrancelhas. Dependendo dos tipos de medicações e suas dosagens, a perda pode variar de leve até uma possível alopecia completa, que é a perda total de cabelos.
“O câncer ainda é um diagnóstico associado a sofrimento e mudança na autoimagem. A queda de cabelo não é uma bobagem, é o momento de realização desse adoecimento. Há uma exposição da nossa intimidade. A ficha do paciente começa a cair ali, é um impacto para ele”, explica Natalia Gil, psico-oncologista do grupo Oncoclínicas, que patrocina o projeto Viver o Câncer.
O uso da peruca e dos lenços nesse período é crucial para alguns pacientes, pois são alternativas de minimizar o impacto visual do tratamento, de melhorar a autoestima e até mesmo de preservar a intimidade. Nos últimos anos, o acessório passou por muitas melhorias.
Há cerca de uma década, as perucas sintéticas eram as preferidas. Porém, o tipo de material usado, como o plástico, não deixava o paciente confortável: era quente, causava coceiras na cabeça, e em casos mais graves, machucados e queimaduras. Esse tipo de acessório também é difícil de lavar e danifica muito rápido.
No lugar dela, foram criadas as perucas com cabelos naturais, que são feitas a partir de doação de material humano. Para serem produzidas, primeiro os fios doados sofrem um processo de tecelagem, formando longas franjas. Depois, com a ajuda de uma máquina de costura, esses varais são costurados em uma touca base e a peruca fica pronta. Tudo leva em torno de 30 a 40 minutos e pode ser feito com qualquer tipo de cabelo: crespo, liso, ondulado, e de muitas cores.
“Os modelos longos são os mais raros, pois para serem feitos é necessária uma doação de pelo menos 50 centímetros de cabelo. Quanto à cor, os ruivos são mais incomuns devido à falta de doação”, diz Mariana Robrahn, fundadora e administradora da ONG Cabelegria.
A organização sem fins lucrativos aceita doações e produz milhares de perucas para pacientes com qualquer patologia que afete a queda de cabelo. Eles estimam entregar cerca de 50 a 60 peças por mês. Ao longo de 11 anos de existência, já receberam mais de 420 mil doações.
Mais modernas
Além da peruca sintética e da natural, há ainda as chamadas laces, que, segundo Robrahn, são as mais avançadas hoje. Diferentemente das tradicionais, elas não passam por tecelagem nem costura à máquina. Sua produção é toda feita manualmente, a partir de pequenos nós nos fios de cabelo. Ela simula 100% o couro cabeludo e dá autonomia para o paciente jogar e mexer os cabelos com naturalidade. Porém, são mais caras. Uma modelo chega a custar de R$ 15 mil a R$ 20 mil, enquanto a peruca natural oscila entre R$ 800 a R$ 5 mil.