Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Tito Guarniere | 7 de dezembro de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
O governo Lula , depois de muitas delongas, apresentou o seu plano de redução de gastos, requerido pelo senso comum e pelo mercado. A montanha pariu um rato. O plano nem despegou do chão e já havia perdido a credibilidade – não era para valer.
Os analistas são unânimes: as medidas anunciadas são insuficientes, aspirina para doença crônica. Medidas que – se forem somente essas – clareiam a intenção do governo de tergiversar o assunto, de fazer um leve aceno, que pareça uma contenção. Plano para inglês ver e engabelar brasileiros. Plano de quem não quer nenhum plano.
Mas, afinal, o plano é necessário mesmo ou é só uma exigência do mercado, esse ente tenebroso que manobra os cordéis da economia, conformando-a aos seus interesses? Nenhum economista sério nega a necessidade de um ajuste nas contas públicas, e que se faça na conta das despesas : são elas que não param de crescer, obrigando o governo a tomar cada vez mais dinheiro no mercado.
Todos eles, os que sabem fazer contas e falam coisa com coisa, projetam uma situação desastrosa e um quadro de grave crise, que certamente ocorrerá, só não se sabe quando, a continuar o mesmo ritmo de expansão dos gastos, sempre mais velozes do que a receita. Os gastos sobem de elevador e a receita sobe pela escada.
Na medida em que aumenta a dívida pública, os juros não só aumentam em valores absolutos, como as taxas de financiamento da dívida – as intervenções do BC, a Selic – contaminando de efeitos corrosivos a vida de pessoas físicas e empresas.
Lula, é verdade, e ao menos, diminuiu as reclamações contra o Banco Central. Já não tinham mais a mesma graça. Parece esgotada a teoria de que os juros subiam por uma ação maligna e proposital do BC, particularmente do presidente Campos Neto. Governantes gastadores têm verdadeiro horror à autonomia do BC.
O governo flertava com uma proposta de corte de gastos, ou porque achava mesmo necessário, ou porque queria ganhar tempo de enganar a torcida. Claro, em tais condições tem uma hora da verdade – alguma coisa tinha de vir ao conhecimento do distinto público.
Junto com um alinhamento de proposições mal ajambradas, insatisfatórias e insuficientes, o governo Lula resolveu que era a hora de cumprir a promessa de campanha de elevar o limite de isenção do Imposto de Renda a R$ 5 mil reais. Bacana. Mas essa era uma contra medida, pois obviamente resultaria numa redução da receita. Valor estimado: cerca de R$ 35 bilhões por ano.
Então ficamos nessa mixórdia: o governo vai reduzir gastos mas na mesma hora anuncia uma medida que aumentará o déficit público, e que nem sequer estava na ordem do dia, no sentido de que não era uma demanda urgente e improrrogável.
À exceção dos arraiais, blogs e sites lulopetistas que comemoram o pacote, choveram críticas de todos os lados. O governo Lula segue em marcha batida apegado a todos os seus valores e idiossincrasias. Segue em marcha batida para devolver o governo à direita, senão a bolsonarista que está em maus lençóis por causa da trama golpista em investigação pela PF, a uma direita menos tóxica, tipo Tarcísio, Zuma, Ratinho Jr., Caiado.
(titoguarniere@terra.com.br)
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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