Com a decepção do mercado financeiro em relação ao pacote fiscal do governo, economistas avaliam que o Banco Central terá que acelerar a alta de juros já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para o início de dezembro.
Com o câmbio em outro patamar (acima dos R$ 6), as expectativas de inflação para 2025 e 2026 devem se deteriorar mais nos próximos boletins Focus do Banco Central (BC) e a Selic deve ser elevada em 0,75 ponto percentual ante expectativas anteriores de uma alta de 0,5 ponto percentual
Se isso se confirmar, os juros fecham o ano em 12% e as apostas são que o ciclo de alta termine com a taxa em torno de 14%.
Presidente do conselho de administração da Jive Investments e ex-diretor do Banco Central, o economista Luiz Fernando Figueiredo, avalia que o Banco Central está pressionado. Com o câmbio muito mais depreciado, as expectativas de inflação, que já estavam piorando, devem piorar ainda mais e o BC terá que subir os juros com mais rapidez.
“Se a expetativa era de uma alta de 0,5 ponto percentual (pp) em dezembro, agora já se espera 0,75 de alta. E se a taxa Selic estimada no final do ciclo de alta era 13%, 13,5%, agora terá que ser mais, talvez 14%, 14,5%. Ainda será necessário ver o comportamento do dólar e onde a moeda vai se estabilizar, já que o mercado está instável”, afirmou Figueiredo.
Agir
Para Sergio Vale, economista da MB Associados, com câmbio a R$ 6, vai ser difícil o Banco Central fazer algo diferente de elevar a Selic em 0,75 ponto percentual na próxima reunião.
“Não tem muita alternativa. O BC está caminhando para encerrar o ciclo de alta da Selic com algo próximo de 14% para conter as expectativas. É um cenário que fica mais desafiador para o BC sob nova direção. O BC precisa sinalizar agora que vai agir e isso significa aumentar a Selic em 0,75 ponto percentual. Aumentar 0,5 ponto percentual seria ruim”, diz Vale.
Ano-Novo complicado
Se o fim do mandato da atual diretoria do BC será conturbado, 2025 será ainda mais complicado. Ou seja, Gabriel Galípolo, indicado pelo governo à presidência do BC, e que vai substituir Roberto Campos, terá um ano bem difícil, na avaliação de Vale, especialmente por conta dos cenários que o governo está construindo no fiscal e também na política monetária.
Para Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, os efeitos colaterais negativos gerados pela decepção com o pacote fiscal do governo estão sendo muito severos, com curva de juros futuros subindo muito forte, a Bolsa despencando e o dólar acima de R$ 6.
“Isso não é uma queda de braço entre o governo e o mercado financeiro, que dá liquidez, que financia o desenvolvimento econômico. Os agentes estão sinalizando que lá na frente, algo não ficará bem”, diz Agostini, que também prevê aumento de juros de 0,75 ponto percentual em dezembro.
Rédea curta
Nesse cenário, o BC terá que apertar ainda mais sua política monetária acelerando a alta dos juros para corrigir este problema gerado agora na política fiscal, que ainda é expansionista.
“Galípolo terá que ter rédea curta. A inflação de 2025 já está mais próxima do teto da meta e a inflação de 2026 já se move para cima também. Isso antes do anúncio do pacote. As próximas expectativas que o BC divulgar através do Focus certamente estarão priores”, prevê. (As informações são do jornal O Globo)