Atuante no mercado imobiliário, a Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe) gastou R$ 107,8 milhões na compra de casas, apartamentos, salas, galpões, além de prédios residenciais, comerciais e outros terrenos, entre os anos de 2008 e 2018. Neste período, a entidade criada pelo padre Robson de Oliveira Pereira, de 46 anos, adquiriu 593 imóveis em Goiás, São Paulo, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Bahia e Pará.
Os dados fazem parte de um relatório das movimentações financeiras da Afipe, a que a revista Época teve acesso. A associação e o padre são investigados pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO) por crimes de apropriação indébita, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos, sonegação fiscal e associação criminosa. O MP suspeita que recursos provenientes de donativos dos fiéis tenham sido utilizados para fins pessoais.
No período analisado, o único imóvel comprado a prazo foi um apartamento situado no Edifício Prime Residence, em Jaguaré, São Paulo. O imóvel foi adquirido em 2011 e custou R$ 330 mil em valores da época. O restante foi pago à vista.
A entidade comprou outros três apartamentos na cidade de São Paulo. Um deles na Avenida Paulista, em frente ao Metrô Consolação. A Afipe pagou R$ 1,5 milhão pelo imóvel e teve que desembolsar mais R$ 600 mil para ter direito a duas vagas na garagem. Segundo os investigadores, o estúdio da Rádio Alpha, que pertence ao Sistema Alpha de Comunicação, fica neste edifício.
De acordo com o MP, a Alpha tem entre seus sócios os irmãos Gleysson Cabriny de Almeida Costa, vice-prefeito de Trindade, e Onivaldo Oliveira Cabriny Costa Júnior. Ambos são investigados pelos procuradores.
Os irmãos Cabriny também são sócios da Rede Demais Comunicação. A Afipe adquiriu quatro apartamentos da empresa em 2016, todos localizados na Avenida D, Setor Oeste, área nobre de Goiânia. Cada um custou R$ 517 mil. A transação é investigada pelo MP e consta na decisão que autorizou mandados de busca e apreensão em endereços ligados à Afipe e ao padre Robson, na Operação Vendilhões.
A Rede Demais Comunicação teve como sócia Celestina Celis Bueno, ex-funcionária do Santuário do Divino Pai Eterno e pessoa de confiança do padre Robson. Ela participou da sociedade entre 2014 e 2016. Quando deixou de ser sócia da rádio, recebeu R$ 4 milhões por suas cotas na empresa. A informação foi obtida pelo MP após quebra de sigilos fiscal e bancário dos investigados.
A presença da Afipe no mercado imobiliário aumentou anualmente. Em 2008, a Afipe gastou um total de R$ 163 mil para adquirir quatro terrenos em Trindade. No ano seguinte, os gastos saltaram para R$ 2,9 milhões. O ápice foi em 2014, quando a entidade utilizou R$ 34,5 milhões para comprar um prédio comercial, 55 terrenos e três casas.
Uma dessas residências fica na Praia de Guarajuba, em Camaçari, na Bahia. A casa de veraneio pertencia ao Sistema Alpha de Comunicação e fica em um condomínio fechado, localizado a poucos metros do mar. A Afipe pagou R$ 2 milhões à vista para fechar o negócio, conforme mostra o documento.
Em nota, a defesa da Afipe e do padre Robson afirmou que a entidade possui imóveis nas cidades onde mantém atividades de comunicação. “Nas cidades onde a Afipe possui rádios e outras operações de telecomunicações, como em São Paulo, por exemplo, ela tem terrenos onde ficam instaladas as antenas dos seus veículos de comunicação”, diz o texto.
Em suas investidas no mercado imobiliário, a Afipe chegou a comprar quarteirões inteiros em loteamentos e bairros. Em Trindade, cidade onde está o Santuário do Divino Pai Eterno, que foi presidido por padre Robson, a entidade é uma das maiores proprietárias em lugares como o Setor São Sebastião, Parque Cristo Redentor, Jardim Imperial, Setor Ana Rosa e Laguna Parque.
Apenas no Setor São Sebastião a Afipe adquiriu 111 terrenos em novembro de 2015. A entidade pagou R$ 345 mil pelos lotes. O bairro é novo, periférico e ainda há poucas casas construídas no local.
Em Niquelândia, município situado a 315 quilômetros de Goiânia, a Afipe também é a maior proprietária de um bairro. No Jardim Lugano, 119 lotes foram comprados pela entidade por R$ 1,6 milhão, em 2015.
Ao todo, a Afipe gastou R$ 82,6 milhões na compra de terrenos. A associação também possui lotes em Aparecida de Goiânia, Caldas Novas e Goiânia, no estado de Goiás, nos municípios paulistas de Assis, Cotia, Guariba e Lorena, além de Santarém, no Pará, e Vila Rica, em Mato Grosso.
Com imóveis comerciais, a Afipe gastou recursos da ordem de R$ 8,7 milhões, todos ele localizados em Goiânia e Trindade. Nessa conta estão incluídas as compras de 13 salas comerciais na Avenida Bernardo Sayão, em Goiânia, uma via que concentra lojas de roupas por preços populares, um galpão adquirido por R$ 850 mil e dois prédios comerciais que, juntos, custaram R$ 1,5 milhão.
A entidade informou, em nota, que o “patrimônio da Afipe, sem exceção, é todo escriturado e contabilizado, conforme objetivos constantes no estatuto da associação. Portanto, sempre foi declarado a todas as autoridades responsáveis, órgãos fiscais, etc.”. As informações são da revista Época.