Sábado, 23 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 27 de setembro de 2024
Quando Pedro (nome fictício), de 10 anos, estava começando uma amizade com Gabriel (nome fictício), seu colega de classe, a carioca Marcela (nome fictício), mãe de Pedro, ficou preocupada com alguns comportamentos exibidos pelo amigo. Depois de um tempo, ao concluir que o menino poderia ser uma má influência para o filho, ela decidiu interferir para a amizade entre eles não avançar.
“Eu falei para o Pedro que eles poderiam ser amigos, mas ele não iria dormir na casa do Gabriel. Ele seria convidado para as festas porque todos os colegas também seriam, mas não iriam brincar lá em casa sozinhos. Tentei ser discreta, porque não queria excluir o garoto do convívio, mas também não queria estimular uma aproximação”, diz Marcela, mãe de Pedro.
Marcela conta que tomou a decisão após notar que Gabriel era desrespeitoso com professores e outros adultos, falava palavrões, e recebia um tipo de educação diferente da que ela oferece para os próprios filhos.
Gabriel e Pedro continuaram como colegas de escola, mas deixaram de conviver fora do horário escolar, o que causou um afastamento entre eles. A mãe acha que tomou a decisão acertada e diz que quer continuar a orientar os três filhos sobre o tipo de pessoa que eles devem ter por perto — mas o tema é polêmico.
Segundo um estudo publicado em julho no periódico internacional “Jornal de Psicologia e Psiquiatria Infantil”, a desaprovação materna de uma amizade pode ter um efeito contrário, aumentando a rejeição da criança cuja mãe desaprova a amizade entre os colegas, e piorando os problemas de comportamento da criança e dos colegas.
Entretanto, uma especialista diz que essas consequências podem ser evitadas. Abaixo, veja a orientação da especialista sobre como os pais devem agir em relação às amizades dos filhos, evitando prejuízos de relacionamento para a criança.
Os pais devem interferir na amizade dos filhos? Segundo a psicóloga especializada em atendimentos familiares Joanna Carvalho, as amizades têm uma grande influência no processo de formação de personalidade de crianças e adolescentes.
Por isso, ela avalia que os pais podem e devem interferir em relações que ofereçam riscos aos filhos, desde que a decisão seja acompanhada de diálogos com a criança.
“Não é que os pais devam interferir em toda e qualquer amizade da criança, escolhendo quem pode e quem não pode ser amigo do filho. Afinal, a criança precisa ter autonomia para descobrir quem ele quer ter por perto. Mas se um dos amiguinhos é alguém que grita com os pais, que não obedece e faz birra para conseguir o que quer, e isso é algo que o pai e a mãe consideram preocupante, então vale aconselhar a criança e estimular um afastamento”, diz Joanna Carvalho.
Os pais preocupados não devem excluir o colega, proibir a amizade ou forçar um afastamento. Em vez disso, devem conversar com o filho e explicar suas preocupações de uma maneira que a criança entenda.
“Não é para simplesmente anunciar para a criança: ‘A partir de hoje, você não vai mais ser amiga do Fulaninho.’ Em vez disso, explique que o Fulaninho teve um comportamento inadequado, que a atitude dele não foi legal, e que, por isso, eles não vão mais poder brincar na casa um do outro”, orienta Joanna Carvalho.
Também por isso, é importante que a motivação dos pais seja válida para a criança, e não seja apenas justificada como uma decisão com base na preferência dos adultos.
“Por natureza, as crianças são questionadoras e observadoras. Se a mãe explica que o colega agiu de uma maneira ruim, é provável que o filho vai ficar mais atento a isso no futuro, o que pode causar um afastamento natural entre as crianças.”
Segundo Marcela, foi exatamente isso que aconteceu entre Pedro e Gabriel.
“Em um primeiro momento, o Pedro ficou chateado, achou injusto. Mas depois ele chegou a me dizer que eu tinha razão, porque o colega foi desrespeitoso em uma situação. Então, eles continuam amigos, mas teve um afastamento”, lembra ela.
Como conversar com os filhos sobre as amizades? Ao decidir intervir em uma amizade do filho, os pais devem propor uma conversa franca com a criança, mas não a ponto de serem insensíveis ou sem considerar os dois lados daquela amizade.
“Se chegar ao ponto de precisar conversar com seu filho sobre algum amiguinho, seja sincero com a criança, mas não use termos pesados ou desnecessários. [O pai ou a mãe] Só precisa fazer a criança entender que algo te incomoda naquela relação e que ela não pode ser positiva”, afirma Joanna Carvalho.
Uma alternativa é fazer a própria criança chegar a uma conclusão. A especialista sugere o seguinte:
– Pergunte para seu filho o tipo de amigo que ele quer ser e que quer ter para si. A partir das qualidades que ele enumerar, pergunte se o amigo possui essas características.
– Ou ainda, pergunte para a criança o que ela gosta e o que ela não gosta no amiguinho. A partir disso, proponha uma reflexão sobre se essa amizade deve ou não continuar.
“É importante não falar as coisas de uma maneira impensada, porque a criança pode reproduzir esse discurso e causar uma situação de mal-estar. Apele para a racionalidade da criança e estimule o pensamento crítico”, indica a especialista. As informações são do portal de notícias G1.