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Mundo Pandemia ameaça agravar de forma duradoura fome no mundo, diz agência da ONU

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No Brasil, 23,5% da população enfrenta uma situação de insegurança alimentar moderada ou grave.

Foto: Reprodução
A maior proporção de famílias nessa situação está nas regiões Norte e Nordeste do País. (Foto: Reprodução)

A pandemia de Covid-19 contribuiu, em 2020, para o aumento do número de pessoas que passam fome e terá efeitos de longo prazo na segurança alimentar, alertou relatório da FAO, organização da ONU para a Alimentação e a Agricultura.

Esse agravamento da fome no mundo, o mais importante nos últimos 15 anos, compromete mais do que nunca a meta das Nações Unidas de erradicar a fome no mundo até 2030, segundo o relatório da FAO publicado nesta segunda-feira (12).

“Em 2020, entre 720 milhões e 811 milhões de pessoas no mundo enfrentaram a fome, ou seja, 118 milhões de pessoas a mais do que em 2010, se levarmos em conta a média dessa faixa (768 milhões)”, alerta a FAO.

O relatório foi publicado em colaboração com o IFAD (Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola), com o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), o PMA (Programa Mundial de Alimentos) e a OMS (Organização Mundial da Saúde).

Mais da metade das pessoas mal alimentadas vivem na Ásia (418 milhões), mais de um terço na África (282 milhões), e 8% delas (60 milhões), na América Latina. Comparado com 2019, o acréscimo foi de 46 milhões na África, 57 milhões a mais na Ásia e cerca de 14 milhões a mais na América Latina e no Caribe.

“Vemos que os números aceleraram ainda mais fortemente”, lamentou o diretor em Genebra do escritório da FAO nas Nações Unidas, Dominique Burgeon, em entrevista à AFP.

De forma mais ampla, o número de pessoas que não tiveram acesso à alimentação adequada ao longo do ano – ou seja, “quem, em alguns momentos do ano, pode ter dificuldades para se alimentar” – foi de 2,3 bilhões em 2020, afirmou Burgeon.

Isso significa “320 milhões mais pessoas” do que em 2019, acrescentou.

“Houve fatores que contribuíram para esta situação, essencialmente ligados a conflitos, ao impacto das mudanças climáticas, aos problemas econômicos que alguns países enfrentavam”, destacou Burgeon.

Em alguns países, “principalmente os mais pobres, onde foram aplicadas medidas para prevenir a propagação da pandemia, as restrições de movimento impediram, por exemplo, que os pequenos agricultores levassem sua produção para os mercados”, deixando-os sem renda para sobreviver.

Já “nas cidades, há, por vezes problemas de abastecimento, o que faz com que os preços aumentem”, sublinhou Burgeon, referindo-se a países da região do Sahel, ou da África subsariana, como o Congo.

Brasil

No Brasil, os dados da FAO mostraram que 23,5% da população sofreu com insegurança alimentar moderada ou grave entre 2018 e 2020. No período de 2014 a 2016, essa fatia era de 18,3%.

Em números absolutos, o aumento foi de 37,5 milhões para 49,6 milhões de pessoas nesse período.

Atraso do crescimento infantil

“Mesmo antes da pandemia de Covid-19, não estávamos no caminho de eliminar a fome e todas as formas de desnutrição no mundo até 2030. Hoje, a pandemia tornou essa tarefa ainda mais difícil”, estima o relatório.

Pior ainda, de acordo com as projeções deste documento, “cerca de 600 milhões de pessoas poderão passar fome em 2030, em parte como resultado dos efeitos de longo prazo da pandemia da covid-19 na segurança alimentar global, o que é 30 milhões a mais do que em um cenário, no qual não teria ocorrido uma pandemia”.

“O mundo não está a caminho de cumprir as metas de 2030 para nenhum dos indicadores de nutrição”, diz o relatório, segundo o qual “a pandemia de Covid-19 provavelmente teve um impacto na prevalência de múltiplas formas de desnutrição e pode ter efeitos duradouros”.

O relatório informa ainda que “22% (149 milhões) das crianças com menos de cinco anos são afetadas por retardo de crescimento”, destacando-se os “problemas de desenvolvimento cognitivo” que afetarão a vida desses menores.

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