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Por Redação O Sul | 16 de setembro de 2018
“Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência perante Deus, cheguei à conclusão de que as minhas forças, devido a uma idade avançada, não são capazes de um adequado exercício do ministério de Pedro.” A frase, dita a cardeais pelo papa Bento XVI às 11h30min da manhã de 11 de fevereiro de 2013, ficou gravada na história por sua pungência e raridade: havia seis séculos que um pontífice não renunciava ao trono. O ato de Bento XVI chacoalhou uma Igreja assolada por denúncias contra prelados pedófilos e por escândalos financeiros, e logo levantou especulações de todos os tipos. Afinal, a fraqueza papal era por não suportar — ou não saber lidar com — a podridão de um clero corrupto e indecoroso? Ele estaria sendo vítima de chantagem de alguns cardeais? Não se sabe, mas certamente esses problemas incomodavam Joseph Ratzinger.
Havia, entretanto, outro percalço, segundo informações da revista Veja, após ouvir o depoimento de integrantes da Igreja próximos ao atual papa emérito: Bento XVI sofre de Parkinson, e já sentia os sinais da doença quando renunciou. O Parkinson é um mal degenerativo crônico do sistema nervoso central que afeta brutalmente os movimentos. Ao renunciar, o papa tinha 85 anos. Está com 91.
As fontes que pediram anonimato por não estarem autorizadas a falar publicamente sobre a saúde do papa emérito, contam que sua rotina está mais limitada em razão da doença. Às 7h45min, logo depois de acordar, ele celebra missa em uma capela com capacidade para cerca de vinte pessoas. Durante a cerimônia, nos moldes pré-Concílio Vaticano II, de frente para a cruz no altar, sustenta-se de pé com a ajuda de assessores. Emenda a missa com o café da manhã, sempre frugal: pão, café, leite e fruta. Até a hora do almoço, passa o tempo lendo ou respondendo a cartas de fiéis.
Ele escreve a mão. Usa lápis curto, que lhe dá mais firmeza — pede que todos os lápis sejam cortados de forma a ficar quase da altura de sua mão. Tem hoje a letra miudinha, uma característica dos portadores da doença, que compromete a coordenação motora. Uma secretária alemã, que o assiste há anos, é uma das raras pessoas que entendem sua atual caligrafia e transcreve os escritos para o computador.
As pernas são a parte do corpo mais atingida pelo Parkinson até agora. Os passos são cada vez mais curtos e lentos. À medida que o caminhar se torna mais difícil, o paciente de Parkinson curva a cabeça e o tronco e passa a jogar o corpo para a frente. A flexão provoca um deslocamento do centro de gravidade, que resulta em desequilíbrio, e, por esse motivo, os tombos podem se tornar frequentes. Isso explica a foto, divulgada em outubro de 2017, em que Bento XVI aparecia com hematoma no olho direito. Era decorrência de uma queda dentro de casa.
Bento XVI no início usou praticamente só bengala. Hoje, precisa também de cadeira de rodas e andador. Os primeiros indícios do Parkinson surgiram um ano antes da renúncia, quando Bento XVI estava às vésperas de embarcar para uma viagem ao México e a Cuba.
Em 23 de março de 2012, o pontífice apareceu no Aeroporto Fiumicino, em Roma, com visível dificuldade de andar. Pela primeira vez, apoiava-se em uma bengala. Cumpriu todos os compromissos, mas dava sinais de cansaço. Na volta, segundo o próprio papa contou em uma entrevista quatro anos depois, ouviu de seu médico: “O senhor não pode mais atravessar o Atlântico”. No ano seguinte, teria de vir ao Brasil para participar da Jornada Mundial da Juventude, no Rio, um evento de relevo no calendário papal. Percebeu que não conseguiria mais.
Em abril daquele ano de 2012, o papa surpreendeu a quem acompanhava a missa celebrada por ele em uma das capelas do Vaticano. Desfiou na ocasião palavras de alta dramaticidade: “Eu me encontro diante do último trecho da jornada da minha vida e não sei o que me espera. Sei, no entanto, que a luz de Deus existe, que ele ressuscitou, que sua luz é mais forte do que qualquer escuridão”.
Hoje, Bento XVI mora no convento Mater Ecclesiae, dentro do Vaticano. A suspeita de que Bento XVI tinha uma doença degenerativa já circulava. Em 15 de fevereiro deste ano, Georg Ratzinger, irmão do papa emérito que mora na Alemanha, deu uma entrevista à revista alemã Neue Post depois de uma visita à residência de Bento XVI. “Meu irmão sofre de uma doença paralisante. O maior medo é que a paralisia possa, a dada altura, atingir seu coração. Aí tudo pode acabar rápido. Oro todos os dias por uma morte boa”, disse Georg. No mesmo dia, o Vaticano afirmou que a informação era “falsa”.