Uma das principais exigências da Rússia para acabar com a guerra é que a Ucrânia nunca faça parte da Otan. Esse é um ponto fundamental do conflito. Entenda o porquê.
A localização geográfica da Ucrânia é considerada estratégica pela Rússia, que está incomodada com a possibilidade de adesão do país à aliança militar do Ocidente, principalmente desde 2008. O avanço da Otan no Leste Europeu é uma preocupação antiga dos russos.
A aliança tem hoje 30 países membros, e quase metade está perto da Rússia, formando uma espécie de cinturão. A Ucrânia é vista pelo presidente Vladimir Putin como um escudo. Isso porque além da força militar de cada país integrante, a Otan tem quatro bases multinacionais na região: Polônia, Lituânia, Letônia e Estônia, com soldados, tanques e aviões.
Desde que foi criada, em 1949, a aliança tem o compromisso de proteção mútua. Se um país for atacado, todos reagem em defesa. Mas o diretor do Instituto para Estudos sobre a Rússia da Universidade de Columbia, Alexander Cooley, explicou que este não é o único motivo do interesse de Putin.
“Esta não é só uma briga por bloqueios de segurança. É uma luta pela orientação econômica da Ucrânia, entre se unir ao Ocidente ou se aproximar da Rússia e suas indústrias”. Além disso, ele lembrou: “A Ucrânia tem acesso ao Mar Negro e é uma importante área produtora de alimentos.
Foi exatamente este o estopim que deu início ao conflito há quase uma década. A Ucrânia negociava um acordo econômico com a União Europeia que previa, entre outras coisas, a criação de uma área de livre comércio. A ideia desagradou a Rússia e a tensão entre os dois países só piorou daí pra frente.
Em 2013, o então presidente ucraniano Viktor Yanukovich, que era aliado de Putin, renunciou ao acordo. Começou uma onda de protestos que resultou na destituição dele. Grupos rebeldes apoiavam Moscou. A Rússia anexou a península da Crimeia a seu território, em 2014, depois de um referendo que foi contestado pelo comunidade internacional.
Agora, Vladimir Putin reconheceu a independência de duas regiões controladas pelos separatistas, Donestk e Luhansk. Uma das justificativas foram os laços históricos e culturais entre Rússia e Ucrânia.
Cooley disse que Putin não está alcançando os objetivos que pretendia porque não conseguiu tomar a Ucrânia rapidamente e substituir o governo.
“A ironia são as razões pelas quais Putin pensou que as tropas russas seriam bem-vindas agora. Pesquisas mostravam que a aprovação do presidente ucraniano era muito baixa, em torno de 20%. Mas a invasão teve um efeito contrário: a popularidade de Volodymyr Zelensky subiu para mais de 90%. A verdade é que Putin realmente calculou mal”.