Sábado, 23 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 7 de abril de 2020
Gravidade de novas ondas da doença dependerá de medidas de contenção tomadas agora, dizem especialistas
Foto: ReproduçãoÀ medida que China, Coreia do Sul e Singapura veem casos novos de Covid-19 emergirem, em sua quase totalidade importados, cresce o temor de uma segunda onda da pandemia.
Cientistas estão convencidos que o vírus continuará a ser uma ameaça global por muito mais tempo, em um período que pode chegar a dois anos, segundo algumas previsões. Mas a gravidade de novas ondas em cada país dependerá das medidas de contenção que eles tomarem agora, alertam especialistas.
O Brasil, que está só no início da subida da primeira onda, ainda não consegue fazer testagem em massa, que tem tido êxito global. E as medidas de isolamento social para aqueles que podem ficar em casa, defendidas pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e governadores, enfrentam a resistência de parte da população e do presidente Jair Bolsonaro. Sem isolamento severo e testes, mostram todos os países que baixaram a curva de ascensão da epidemia, é impossível conter o coronavírus.
Uma projeção do grupo “Covid-19 Brasil”, que reúne universidades brasileiras e acertou todas as análises até agora, diz que o Brasil tem hoje, na verdade, 82 mil pessoas infectadas e não 12.056 como indica o governo. As novas projeções levam em conta a estrutura etária da população com base nos dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
“O momento não é de discutir se uma segunda onda virá porque isso é certo. A questão é como virá. Muito provavelmente o coronavírus causará ondas nos próximos dois anos. A questão será nossa capacidade de testar o maior número de pessoas, saber quantos são os infectados, isolar os casos”, alerta o especialista Domingos Alves.
Segundo ele, a curva do Brasil está mais íngreme que a dos Estados Unidos e estamos ainda na primeira metade da escalada, cujo pico poderá ser alcançado somente em maio, em um cenário otimista e, em novembro, em um pessimista.
Se China e Singapura, com novas medidas de isolamento e alto controle social, além de intensa testagem, são vistas como exemplo e observadas com atenção neste momento em que tentam segurar uma nova onda, Alves e outros pesquisadores, como a professora de virologia Clarissa Damaso, pensam que o modelo asiático pode funcionar lá, mas não é factível no Brasil.
O Brasil está entre os países que menos testam no mundo – 258 por milhão contra 10.962 por milhão da Alemanha, por exemplo. Nesse ritmo, jamais teremos um passaporte de imunidade, como sugeriu o ministro da Economia, Paulo Guedes.
Há muita coisa que ainda não se sabe sobre o coronavírus. Uma delas é se uma pessoa infectada e recuperada de fato se torna imune. Esse é o princípio do “passaporte de imunidade”. Os infectados recuperados teriam anticorpos que os protegeriam. Acontece com os vírus do sarampo, por exemplo, mas não com todos os vírus. Tampouco se sabe quanto tempo duraria e o quão intensa seria essa proteção adquirida.