Quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 8 de julho de 2021
Um dia após emitir uma dura nota junto com os comandantes da Forças Armadas contra declaração do presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), o ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, agiu para tentar acalmar os ânimos com os parlamentares.
Pela manhã, o general telefonou para o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). O gesto, segundo fontes militares do governo, foi uma “consideração institucional.” Pacheco, por sua vez, foi às redes sociais dizer que tudo não passou de um “mal-entendido” e que o “assunto está encerrado.”
Na conversa, segundo o jornal O Globo, Braga Netto reiterou a Pacheco que a nota foi um reação pontual à fala de Aziz, mas que não há nada pessoal contra o senador. O texto dizia que as “Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro.”
Os militares ficaram irritados principalmente quando o presidente da CPI disse, em sessão na quarta-feira (7), que “fazia muitos anos que o Brasil não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do governo.”
Após a conversa com Braga Netto, Pacheco, por sua vez, foi às redes sociais também em um esforço para estancar a crise institucional. O presidente do Senado relatou conversa com o ministro da Defesa, dizendo que ressaltaram “a importância do diálogo e do respeito mútuo entre as instituições, base do Estado Democrático Direito, que não permite retrocessos”.
“Deixei claro o nosso reconhecimento aos valores das Forças Armadas, inclusive éticos e morais, e afirmei, também, que a independência e as prerrogativas de parlamentares são os principais valores do Legislativo”, escreveu Pacheco. “O episódio de ontem, fruto de um mal-entendido sobre a fala do colega senador Omar Aziz, presidente da CPI, já foi suficientemente esclarecido e o assunto está encerrado.”
Entre os integrantes da CPI, porém, o tema voltou a ser assunto durante o depoimento da ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunização (PNI), Francieli Fantinato. Na sessão, o relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), reagiu à nota do Ministério da Defesa e dos comandantes das Forças Armadas.
“Esta comissão não pode ser ameaçada sob pretexto nenhum. Nós estamos investigando e retirando a máscara de um esquema que funcionava no Ministério da Saúde que proporcionou o agravamento do número de mortes de brasileiros em função da covid. Ora, se isso vai desvendar a participação de civil ou militar, não importa. O que importa é que esta comissão, foi dito aqui, não vai investigar instituições.
Em seguida, ele se dirigiu ao ministro da Defesa, Braga Netto:
“Então que o senhor Braga Netto saiba que não há nenhuma confusão entre a participação de [Eduardo] Pazuello [general do Exército que foi ministro da Saúde] com as Forças Armadas. O Brasil todo respeita as Forças Armadas e o exemplo que podem continuar dando. De uma forma ou outra, influenciou a formação do Brasil. Mas não pode confundir o nosso papel e achar que vai nos intimidar. Vamos investigar haja o que houver. Se Pazuello participou do morticínio, se Bolsonaro participou do morticínio, se Elcio [Franco, coronel do Exército que foi secretário-executivo do Ministério da Saúde] participou do morticínio, se ele participaram, mas não contaminam as Forças Armadas.”
A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) classificou a reação militar como “desnecessária”.
“No meu entendimento, isso elevou de forma exagerada o tom, e não pode elevar, porque nós não podemos jamais ser complacentes com a corrupção. Existem problemas em todos os Poderes do Brasil, em todos os espaços, em todas as instituições”, disse a senadora.
Militares da reserva também não quiseram deixar o assunto esfriar. Em nota, o Clube Militar criticou o Congresso e chamou a CPI da Covid de “Circo Parlamentar de Indecência.
“O Clube Militar acrescenta que a generalização citada pelo presidente do ‘Circo Parlamentar de Indecência’ se enquadra, perfeitamente, para a Instituição a qual ele pertence, onde seus integrantes, em sua grande maioria, não conseguem justificar a origem de seus patrimônios, cuja investigação é sempre bloqueada por uma Suprema Corte que envergonha o nosso Brasil”, destacou a nota.
Sem unanimidade
A nota emitida pelo ministro da Defesa e comandantes das Forças Armadas não é uma unanimidade entre a oficiais da ativa. A avaliação de parte dos oficiais é que o texto subiu o tom mais do que necessário para repudiar a fala de Omar Aziz sobre a suspeitas de envolvimento de militares em irregularidades no Ministério da Saúde.
Outra percepção é que o posicionamento acabou por envolver as Forças Armadas na CPI da Covid. Apesar de integrantes do Exército terem ocupado postos-chaves na gestão de general Pazuello, a Força vinha se mantendo distante com o argumento de que muitos estavam na reserva, e os que estão na ativa desempenhavam uma função de governo.