Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 29 de outubro de 2022
Debate não muda voto de indecisos. A constatação é do cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Rodrigo Prando. Mesmo admitindo ter sido sempre um defensor desses encontros como “um dos pontos-altos da democracia”, para ele a situação atual mostra que causam pouco efeito. “Quando se tem um debate alicerçado sobre ataques pessoais, fake news ou teorias da conspiração, por exemplo, você acaba intoxicando a discussão naquele momento e no geral”, acrescenta.
“O debate público foge da racionalidade e busca capturar o eleitorado e a atenção das pessoas para emoção, para as paixões. E aí me parece que o debate tem servido exclusivamente para gerar memes, lacração para as redes sociais e para as campanhas dos candidatos”, destaca o professor.
Para Prando, “se você reparar – e especialmente o Bolsonaro é muito bom nisso – ele para, usa frases de efeito, frases que são animadoras de sua militância e é orientado a fazer isso de maneira a produzir conteúdo para as redes sociais”.
“Eu tenho que admitir que, do começo dessa eleição para agora, a minha perspectiva analítica mudou porque quando você tem no debate figuras populistas, e especialmente uma figura como o Bolsonaro, que é muito próximo de [Donald] Trump nos Estados Unidos, e é uma metralhadora de fake news, […] o debate acaba se tornando um espaço diminuído, um espaço em que você não consegue, por exemplo, chegar no indeciso”, acrescenta.
Apesar de chamar ambos de populistas, Prando faz uma ressalta porque eles “não são iguais”.
“Bolsonaro atacou sistematicamente a democracia e as instituições e o Lula, pelo menos, se coloca distante desses arreganhos autocráticos que o Bolsonaro nunca escondeu. Então não é novidade para ninguém no Brasil ou fora do Brasil esse tipo de conduta do Bolsonaro, a ponto do mundo estar olhando as eleições brasileiras com muita atenção”, pontua ainda.
“De qualquer maneira, o debate aconteceu e o impacto na eleição de amanhã me parece reduzido. No fundo, a polarização e a convicção daqueles que votam em Lula ou Bolsonaro estão muito consolidadas”, finaliza.
Durante o debate realizado pela TV Globo, Lula e Bolsonaro trocaram acusações pessoais como atual mandatário chamando o petista de “mentiroso” e “bandido” e Lula rebatendo classificando o presidente de “descompensado”. Também debateram temas como a pandemia de covid-19, o aumento da fome e até a compra de Viagra pelos militares.
No primeiro turno do pleito, realizado em 2 de outubro, Lula ficou à frente com 48,43% dos votos (pouco mais de 57,2 milhões). Bolsonaro obteve 43,20%, cerca de 51 milhões de votos.
As pesquisas de intenção para o segundo turno mostram um resultado semelhante, com os dois candidatos próximos.