Sexta-feira, 07 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 28 de novembro de 2020
Um dos criadores da urna eletrônica no Brasil, o matemático Giuseppe Janino considera que o equipamento tornou o País uma referência internacional no assunto. Segundo ele, que atualmente comanda a Secretaria de Tecnologia e Informação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o sistema é confiável e não registrou uma fraude sequer desde a sua implantação, em 1996.
Ele rechaça de forma veemente os questionamentos levantados pelos que defendem a volta do voto impresso, a exemplo do próprio presidente Jair Bolsonaro (cujos diversos mandados como deputado federal e depois chefe do Executivo foram conquistados por meio do modelo eletrônico).
Ele menciona o caso recente dos Estados Unidos, cujo processo de votação e apuração em cédulas de papel se mostrou demorado e sujeito a diversas polêmicas, protagonizadas sobretudo pelo presidente Donald Trump, inconformado com a derrota em sua tentativa de reeleição. “Além disso, a urna eletrônica facilita a contagem e ainda garante acessibilidade a deficientes e analfabetos”, ressalta Janino.
“A urna eletrônica veio para mudar um paradigma que tínhamos no passado, quando usávamos cédulas impressas e que no final eram abertas e contadas em uma mesa”, compara. “O processo era lento, repleto de erros e fraudes, levando várias semanas até o resultado. Isso foi o grande motivador da mudança. Em 24 anos, o Brasil se tornou protagonista da maior eleição informatizada do mundo.”
O matemático lembra que o sistema “no papel” facilitava diversas modalidades de crimes eleitorais. “Havia desde urnas que já vinham com voto dentro até o ‘voto formiguinha’, por meio do qual uma pessoa ficava na porta da seção que negociava com o primeiro eleitor: ‘Olha, te dou dinheiro, você vai lá dentro e, quando pegar a cédula oficial, coloca no bolso e me entrega quando sair’. Aí ele preenchia e entregava ao próximo eleitor”.
Ainda sobre a segurança da urna eletrônica, Janino salienta o fato de o equipamento contar com vários mecanismos de garantia. “Não se trata de um software que não seja de autoria do TSE ou que tenha sido adulterado. A urna registra todas as informações que gera, em uma espécie de certificado digital que permite conferir posteriormente se o boletim de urna saiu de um equipamento oficial.”
Ele prossegue: “O nosso sistema é confiável. Somos referência no mundo e temos muitos mecanismos de auditoria e verificabilidade, inclusive com o próprio eleitor participando em vários eventos de auditoria”.
Internet
No que se refere ao sistema de votação pela internet que deve ser testado em breve pelo Tribunal Superior Eleitoral, o coautor do projeto da urna eletrônica brasileira detalha que o ministro do STF (Superior Tribunal Federal) e atual presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, já instituiu um grupo de trabalho para estudar as votações futuras no País – a próxima será realizada em 2022, quando os brasileiros escolherão deputados estaduais e federais, senadores, governadores e o presidente da República.
Dentre as hipóteses cogitadas está a utilização de dispositivos pessoais como telefones celulares. “Está se abrindo uma nova frente de estudos desse tipo de solução”, avalia Janino. “Existem vários desafios nisso, de trazer tudo aquilo que conquistamos com a urna eletrônica. Um deles é garantir o sigilo do voto, que existe para que o eleitor não sofra coação. Garantir isso é um dos desafios.”
(Marcello Campos)