Sábado, 21 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 26 de agosto de 2021
Diante da pior crise hídrica dos últimos 91 anos, o Brasil busca uma saída com os vizinhos e tenta destravar projetos com países em que as relações, por razões ideológicas ou econômicas, tornaram-se mais frias do que o normal no governo Bolsonaro.
Técnicos brasileiros e bolivianos retomaram as discussões sobre a construção de uma usina binacional no Rio Madeira, fronteira entre os dois países, suspensas no início deste governo.
Representantes do Planalto também conversam com os argentinos sobre a retomada do projeto do gasoduto Vaca Muerta-Uruguaiana (RS).
E, para assegurar o abastecimento interno, as importações de energia elétrica da Argentina e do Uruguai, membros do Mercosul — bloco que, segundo o ministro da Economia, Paulo Guedes, tem amarras que impedem o Brasil de crescer — aumentaram significativamente este ano
Ou seja, em um momento em que o Mercosul é questionado por Brasília, a integração energética, por necessidade do Brasil, avança.
Segundo estimativa preliminar do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ, a usina hidrelétrica binacional do Rio Madeira tem capacidade prevista de 3,5 gigawatts (GW), volume que atenderia a 6 milhões de residências, ou praticamente todo o estado de Minas Gerais, por exemplo.
Os projetos de integração energética entre Brasil e Bolívia são tratados no Comitê Técnico Binacional em Cooperação Energética (CTB), informou o Ministério de Minas e Energia (MME).
Além da usina binacional no Rio Madeira, estão em estudo a construção de corredores de interconexão elétrica para exportação de energia da Bolívia para o Brasil; o acompanhamento e monitoramento dos contratos de fornecimento de gás natural e a possibilidade de alteração da cota de energia de Jirau.
Dados do Ministério da Economia mostram que, de janeiro a julho deste ano, o Brasil comprou, em dólares, 5.253% a mais de energia elétrica da Argentina do que nos sete primeiros meses de 2020. O valor saltou de US$ 8,8 milhões para US$ 472 milhões. A energia oriunda do Uruguai aumentou 1.560%.
Em mil quilowatts/hora (MkW/h), a quantidade importada subiu de 86.278 para 3.183.149 (ou 3.189MW) da Argentina e de 280.383 para 734.408 do Uruguai.
Por outro lado, a base de comparação com o que foi importado no mesmo período do ano passado foi afetada por um desempenho mais fraco da economia, que levou à queda do consumo nacional.
Já a construção de um gasoduto para trazer ao Brasil gás das reservas de Vaca Muerta tem sido largamente defendida pelo governo argentino. Os brasileiros precisam do gás, e os argentinos, de mercados e investimentos.
O custo seria de US$ 3,7 bilhões para o lado argentino e US$ 1,2 bilhão para a parte brasileira, segundo estimativas extraoficiais.
Na agenda bilateral energética, a Argentina tem especial interesse no setor de petróleo e gás. O país estima ter 27 bilhões de barris de petróleo e 802 trilhões de metros cúbicos de gás, a terceira maior reserva do mundo de petróleo e gás de xisto, atrás dos Estados Unidos e da China.
Segundo analistas, a região de Vaca Muerta, na Província de Neuquén, poderá fazer dobrar até 2023 e triplicar até 2028 a produção argentina desses produtos.
Vaca Muerta seria a segunda reserva mundial de hidrocarbonetos não convencionais, atrás apenas da bacia de Permian, nos EUA.
Nesse sentido, a Argentina pretende transformar a formação geológica do local em plataforma de exportação e avalia o Brasil como potencial consumidor do seu gás natural.
Setores do governo argentino e parte da iniciativa privada favorecem, assim, a construção de gasoduto ligando a província de Neuquén à cidade de Uruguaiana. A iniciativa, que visa levar o gás natural argentino ao Sudeste brasileiro, incluiria ainda a construção de um gasoduto entre Uruguaiana e Porto Alegre.
“Tábua de salvação”
Fontes do governo brasileiro afirmaram que a possibilidade de ingresso de gás natural argentino no Brasil a preços competitivos, mediante a constituição de um eixo dutoviário, poderia incrementar a oferta do insumo para Região Sul do Brasil.
“O governo está fazendo um imenso esforço para conseguir energia de qualquer tipo, em qualquer lugar e a qualquer custo. Nesta busca, o Mercosul, que vem sendo tão criticado pelo Ministério da Economia, surge como uma tábua de salvação, com a possibilidade de o Brasil importar energia elétrica da Argentina “socialista”, do Uruguai”, disse Nivalde de Castro, da UFRJ.
Ele acrescentou:
“E há evidências de que o governo reabriu negociações com a Bolívia, para aumentar a vazão da usina hidroelétrica de Jirau e também para a construção da hidroelétrica binacional no Rio Madeira.