Sexta-feira, 29 de novembro de 2024
Por Carlos Roberto Schwartsmann | 20 de dezembro de 2022
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Ainda na Austrália, que está 14 horas na frente, que está sendo invadida por asiáticos, tive uma experiência interessante com duas jovens universitárias chinesas no domingo passado:
Tentavam assar carne numa das dezenas churrasqueiras elétricas públicas em praça frente ao mar.
Receptivas e curiosas a respeito do Brasil ouviram com atenção que o nosso país possui o maior rebanho bovino do mundo!
Orientei como salgar a carne e expliquei a nossa versão a respeito da origem do churrasco: os colonizadores aprenderam com os índios tupis sul-americanos colocar em brasas a carne salgada, pelo suor do animal, que era carregada no lombo do cavalo.
Desconheciam os países da América do sul e não sabiam que nós falamos português e os outros latino-americanos falam espanhol.
Entretanto, sabiam que na próxima madrugada a Argentina iria enfrentar a França na decisão da copa de futebol.
Falei que tínhamos laços fortes com os hermanos. No passado, havia a República Cisplatina que era formada pelo sul do Brasil, Uruguai e norte da Argentina. Nesta região cresceram os gaúchos que seriam os cowboys que lidavam com o gado e herdaram o hábito do churrasco!
Só a lembrança desse passado, me inclinou a torcer pelos hermanos: somos da mesma origem!
Mas sem dúvida, o fato mais marcante desta decisão, sobrepujando a nossa rivalidade histórica futebolística, foi o sentimento de tristeza ao visitar a Argentina no final do semestre passado.
Durante minha vida, fui inúmeras vezes ao país vizinho. Esta vez fiquei chocado com as famílias dormindo na rua, com as lojas da Florida fechadas e ver os portenhos, humildemente, fazerem filas para receberem sobras dos supermercados ou simplesmente ossos ao fechar das carnicerias.
Nunca imaginei que, outrora o país mais desenvolvido da América Latina, poderia se transformar de tal maneira.
Buenos Aires se tornou perigosa. A pobreza alcançou quase 40% da população argentina. No continente, só é superada pela Venezuela, que atingiu 58%.
A inflação, que é de 100%, levou muitos argentinos aos lixões para sobreviver. O dólar azul, o paralelo, alcançou 350 pesos, enquanto o oficial é de 160.
A Argentina, que já ganhou 5 prêmios Nobel, ao contrário do Brasil, que nunca ganhou, deu ao mundo o tango, um Papa, Maradona e Messi!
Os atletas argentinos compreenderam que só poderiam compensar o seu povo neste momento tão difícil trazendo o maior troféu esportivo do mundo. Seria uma injeção de ânimo, de glória que iria resgatar a autoestima do povo.
Por isso se entregaram com raça, determinação, vontade e gana de vencer. Os argentinos necessitavam desta alegria, desta festa!
Nós, latinos, sabemos como é bom ganhar do primeiro mundo!
Uma lástima que a maioria dos franceses não colocou no peito as medalhas do segundo lugar.
Parabéns, hermanos!
Carlos Roberto Schwartsmann – Médico e Professor universitário
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
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