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Colunistas Paradoxo da liberdade, reflexões sobre a democracia

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A democracia, em sua essência, é como essa casa de portas abertas

Foto: Divulgação
A democracia, em sua essência, é como essa casa de portas abertas. (Foto: Divulgação)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Era uma noite fria e chuvosa de inverno quando Ângelo, um homem simples, de coração generoso, abriu as portas de sua casa a um desconhecido. O estranho, encharcado pela chuva, pedia abrigo com olhos cansados e voz trêmula. Ângelo, movido pela compaixão que sempre guiara sua família, não hesitou. Sua esposa preparou uma sopa quente, e seus filhos cederam um cobertor ao homem.

Durante alguns dias, o hóspede permaneceu, compartilhando histórias de uma vida sofrida, ganhando a confiança de todos. Até que, numa madrugada silenciosa, o mesmo homem que fora acolhido revelou sua verdadeira face: tentou se aproveitar da filha mais nova, roubou os pertences da família e feriu seriamente o pai, que tentou detê-lo, deixando para trás um lar devastado junto com o rastro da ingratidão.

Moral da história

O abrigo oferecido com boas intenções tornou-se a brecha para a destruição. Assim, Ângelo aprendeu, da pior forma, que a generosidade sem limites pode convidar o caos.

Essa parábola reflete um dilema que transcende o lar de Ângelo e alcança as estruturas da sociedade.

Os dois lados da democracia

A democracia, em sua essência, é como essa casa de portas abertas: um sistema que promete liberdade, igualdade e a voz do povo. Ela se ergue sobre o ideal de que todos têm o direito de se expressar, de existir, de propor suas visões de mundo. Mas, assim como na história, será que essa abertura irrestrita não pode, por vezes, abrigar aqueles que usarão a liberdade como arma contra ela mesma?

A liberdade de expressão, pilar sagrado da democracia, deveria ser um direito inalienável, permitindo que tanto a esquerda quanto a direita ecoem suas ideias, mesmo as mais desconfortáveis ou críticas.

No entanto, o que se observa na prática é uma seletividade perigosa. Ofensas e injúrias, que deveriam ser resolvidas no campo judicial, transformam-se em questões ideológicas e pretextos políticos para uma polarização que privilegia um lado e sufoca o outro.

Se a liberdade não é plena e equitativa, podemos realmente chamá-la de liberdade? Em regimes ditatoriais, a resposta é clara: vozes de opositores são silenciadas sem pudor, a opressão reina, e as críticas morrem antes de nascer.

Na democracia, porém, há espaço para todas as ideologias, até mesmo aquelas que trazem consigo um histórico de sangue e sofrimento. O comunismo, por exemplo, carrega um legado sombrio, até hoje gravado na memória de nações como as do Leste Europeu, onde suas vítimas não apenas temem seu retorno, mas o rechaçam com leis que proíbem sua propagação.

Enquanto isso, no Brasil, partidos esquerda que ecoam suas ideias, muitas vezes mascaradas por utopias e eufemismos, florescem livremente, legitimados pelo mesmo sistema que dizem querer transformar.

Essa dicotomia inquieta: a democracia amplifica algumas vozes e silencia outras, guiada por critérios subjetivos que corroem sua própria fundação.

E quando essas ideologias chegam ao poder pela via democrática, o paradoxo se intensifica. Pois a mesma liberdade que as elevou ao poder, torna-se relativa, tendenciosa, moldada para servir aos interesses de quem a conquistou, e claramente não pretende deixar esse poder.

Será que a democracia, em sua busca por incluir a todos, pode nos conduzir à condenação por escolhas mal calibradas?

Religiosidade

A liberdade religiosa é outro terreno onde esse paradoxo se manifesta. Em regimes autoritários, como alguns países islâmicos, professar o cristianismo pode custar a vida; na democracia ocidental, até o satanismo encontra espaço para se erguer, algo que algumas décadas atrás seria inconcebível, só que ninguém previu isso na Constituição.

Reflexão geral

A Constituição resguarda todas as crenças, um princípio nobre “em teoria”.

Mas até que ponto a tolerância deve se estender?

Devemos acolher ideologias que, sob o véu da liberdade, plantam sementes de discórdia, destruição, o controle totalitário sobre o povo?

Winston Churchill, com sua lucidez cortante, afirmou que “a democracia é o pior sistema de governo, exceto por todos os outros”.

A frase ganha peso quando percebemos que fascistas e comunistas muitas vezes se disfarçam sob o manto democrático para semear suas agendas nefastas.

A liberdade de expressão, tão celebrada, pode se tornar um solo fértil para ideias que ameaçam a própria existência da liberdade.

É como se, ao abrir as portas para todos, convidássemos tanto o amigo quanto o predador para que ela entrasse em nossa casa.

Refletir sobre isso me parece urgente, pois a verdadeira democracia exige equilíbrio, um espaço onde todas as vozes sejam ouvidas sem privilégios ou discriminações, mas com a vigilância necessária para que a liberdade não se torne um Cavalo de Troia.

Cabe a nós, cidadãos, zelar para que ela não seja uma ilusão seletiva, mas um direito autêntico e universal.

Só assim preservaremos seus valores, sem permitir que ideologias malignas encontrem abrigo, pois a sombra da democracia deve ser, sim, generosa, mas nunca ingênua.

* Fabio L. Borges – jornalista e cronista gaúcho

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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