Não há dúvida que parcelamento de salários causa sérios transtornos. Nenhum trabalhador se programa para não receber e levar a vida dentro da normalidade, pagando suas contas e fazendo suas compras indispensáveis no supermercado, na farmácia, nas lojas… Ficar sem o salário é como perder o emprego e ser jogado na rua da amargura, sem saber o que fazer e nem para onde ir. O salário é sagrado, porque é o meio de vida de quem trabalha e de seus dependentes. Receber o salário é direito. Pagar o salário é obrigação.
Ninguém ignora o transtorno e as perdas, inclusive de natureza psicológica e moral. Mas o governo não anunciou demissões coletivas e, muito menos, a falência do Rio Grande do Sul (embora esteja falido). Os salários serão pagos, dentro das possibilidades, sem atraso superior a 25 dias, para uma minoria. Mais da metade (52%) recebeu em dia. Dentro de 13 dias, 71% terão recebido integralmente. Quem ganha acima de R$ 3.150,00 (menos de 30%) terá o restante do dinheiro na conta em três semanas.
Claro que três semanas de atraso é muito tempo. Mas não justifica uma reação tão feroz, com ameaças de greves. Não se trata de defender o governo, que não precisa de defesa alheia. Trata-se de colocar de modo claro uma situação de total falta de recursos dos cofres estaduais. O atraso não é medida política, financeira ou qualquer coisa que não seja absoluta ausência de recursos. Não é uma escolha; é uma imposição da realidade. A situação é de pré-insolvência. Outros gastaram demais, produziram de menos e geraram a miséria.
Mesmo com apenas parte dos salários no bolso – o que é muito ruim -, é preciso ter um pouco de compreensão com o herdeiro da massa falida. Quem não paga é José Ivo Sartori. Mas quem gerou o caos não foi Sartori. Pressioná-lo de modo selvagem não vai fazer surgir dinheiro do nada. Apesar das dificuldades, todos precisam participar dos esforços para a reconstrução do Estado, que tem potencial e gente para enfrentar quaisquer dificuldades. Não se iluda com a política oportunista de quem ajudou a cavar o buraco. Seria igual com qualquer governo. Não há impressoras de dinheiro na Secretaria da Fazenda. O problema é a miséria. E pode ficar pior. (Clesio Boeira.)