Domingo, 24 de novembro de 2024
Por Ali Klemt | 24 de novembro de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Acho que eu nem devia ter voltado de Paris… para cair direto nesse nosso “Circo Brasil”.
Essa semana foi intensa – e quem acompanha os noticiários se pegou confuso, tentando entender como um suposto crime tão sério contra a nação veio à tona só agora… e por que sabemos tão pouco? E por que não temos acesso a mais informações? E por que se pensaria em um crime tão idiota? E como raios alguém pode planejar matar a cúpula do País envenenada e explodida e achar que ninguém vai notar? E por que uma das potenciais vítimas pode agir como promotor e como Juiz, tudo ao mesmo tempo agora, tendo que se utilizar da terceira pessoa para falar de si mesmo? São tantas perguntas sem resposta… e você acredita que nem é isso – ou melhor não só apenas isso – que me incomoda?
Para ver o meu nível de tristeza diante de todos esses pontos. O que me deixa profundamente desesperançosa é ver o quanto NÃO estamos interessados na verdade dos fatos – ou, pior ainda, em cobrar que a verdade seja perseguida, de forma imparcial e honesta. O Brasil virou um imenso Grenal do mal.
Veja bem: eu adoro o Grenal. Do ponto de vista esportivo, a partir do espírito de competição positivo, a rivalidade pode ser boa. Ela desperta nosso instinto mais profundo de sobrevivência. É o “matar ou morrer” sem ter que, efetivamente, tirar a vida de ninguém. É ter sangue nos olhos para lutar pela vitória, para botar em prática toda uma vida de dedicação, para retornar a paixão de quem em nós acredita. A rivalidade aberta, ostensiva, leal é boa e faz com que todos evoluamos.
O lado sombrio da rivalidade é quando ela tem um objetivo só: o poder. E então, velada, ela se torna desculpa para manipulação, para subterfúgios, para dissimulação. Nesse contexto, o uso da palavra se torna estratégico, e vence quem cria não a melhor narrativa, mas aquela que atinge mais profundamente o maior número de pessoas.
Eu não vou dissecar a forma como vejo a nossa realidade. O que proponho, nesse texto, é que reflitamos sobre qual é a maior carência, hoje, dos brasileiros, e de que forma essas “faltas” se tornam o combustível para incendiar o cenário político do momento. Polarizados, lutamos por pontos de vista sem abrirmos espaço para a transigência. Para as soluções.
Eu não vejo ninguém buscar soluções. Eu só vejo uma guerra ideológica, municiada pela mídia, na qual não se veem intenções boas, apenas a destruição do lado oposto. E isso é tão, mas tão profundamente triste.
Triste porque ainda vivemos em um País onde escolas públicas não têm sequer papel higiênico, mas para onde as crianças vão para suprir a sua única refeição do dia. Triste porque mulheres ainda são mortas pelos seus companheiros, que as julgam coisas e não aceitam perderam sobre elas a sua posse. Triste porque brasileiros morrem esperando por cirurgia. Triste porque quase 1/4 da população sequer tem saneamento básico!
Quem se importa? O pior crime, no nosso País, é ter opinião contra o governo – e isso é tudo o que importa, enquanto estouram o orçamento público e decoram a casa presidencial e compram avião novo (com chuveiro, porque aí não existe problema de água “encanada”), enquanto seguimos trabalhando cinco meses pro ano para…adivinha? Pagar impostos.
Desculpe-me por te deixar triste. Quem sabe focamos essa energia em cobrar respostas, soluções e ações direcionadas? Precisamos mudar a nossa atitude em relação aos governos. Passar a agir como “cliente” que exige retorno efetivo, e não como torcedor de time de futebol apaixonado. Ambos desejam resultado, mas a atitude é totalmente diferente.
E, afinal, não importa quem esteja no poder, mas o que se faz com o poder que se tem nas mãos.
@ali.klemt
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.