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Por Redação O Sul | 11 de outubro de 2018
A derrota da ex-presidente Dilma Rousseff em Minas Gerais é usada por integrantes da ala moderada do PT para pregar a virada de página do partido em relação à impopularidade deixada pela petista em seu governo – rumo a uma postura de maior diálogo com outras forças políticas e com eleitores que já tiveram simpatia pela legenda, mas se distanciaram nos últimos anos. Na avaliação de articuladores petistas, a reprovação de Dilma nas urnas, depois de passar a campanha se dizendo vítima do “golpe”, mostrou que, se esse grito de guerra já seduziu um dia, hoje não ajuda o partido especialmente no Sul e Sudeste, onde o presidenciável Fernando Haddad encontra maior dificuldade para ganhar o eleitorado.
Dilma coleciona desafetos e críticos no partido, que a culpam pela complicada situação eleitoral do PT. Mesmo entre eles, não houve comemoração pelo seu constrangedor quarto lugar na briga pelo Senado em Minas. Porém, internamente, alguns admitem certo “alívio” pela “reflexão crítica” que a derrota da petista impõe ao partido. Dizem que havia receio de que a bancada do Senado precisasse, por uma questão simbólica, entregar a liderança da legenda na Casa a ela, abrindo espaço para a perpetuação do discurso do “golpe” a cada vez que ela subisse à tribuna. Pelo temperamento difícil da ex-presidente, consideram que a articulação política com outras legendas e até na própria bancada também seria um desafio.
A partir de 2019, o PT enfrentará um cenário mais adverso no Senado. Em vez dos 11 parlamentares que tem na Casa hoje, terá a bancada reduzida a seis integrantes. Já é um preocupação para os senadores petistas pela força política que a legenda terá para fazer oposição a Jair Bolsonaro (PSL) ou articular uma base governista para Fernando Haddad. Enxergam em Jaques Wagner (PT), eleito pela Bahia e, agora, um dos coordenadores da campanha presidencial, um líder mais habilidoso para cumprir as duas tarefas do que a ex-presidente Dilma, caso tivesse sido eleita.
Antes mesmo de pensar na atuação do PT no Congresso, líderes da ala mais moderada do PT, que tem Wagner como uma das vozes, pregam que é hora do partido rever o discurso com urgência para o segundo turno. Para eles, a derrota em Minas é um sinal de que a insistência no discurso do “golpe” não agradou o eleitor. A avaliação é que, no Nordeste, a narrativa ainda tem ressonância. Porém, a região já saiu do primeiro turno como a “fortaleza petista”. Então, o momento é de acenar para o eleitor do Sul e Sudeste com um discurso mais conciliador.
Para além do eleitorado, o enterro do assunto impeachment é visto por integrante do partido como uma maneira de atrair outras legendas para a campanha de Haddad. Um senador da legenda lembra que, no Congresso, colegas de outras siglas passaram o último ano repetindo que não apoiariam o PT nas eleições por serem chamados reiteradamente de “golpistas”.
No âmbito das alianças políticas, uma das negociações travadas pela posição de Dilma e outros petistas foi a aliança entre o governador Fernando Pimentel (PT) e o MDB mineiro por sua reeleição. A ex-presidente avisou que não subiria no mesmo palanque de deputados que votaram pelo impeachment. Pimentel acabou cedendo e o MDB lançou candidato próprio no Estado. Hoje, aliados do governador avaliam que a distância do MDB foi um dos motivos que levaram Pimentel a ficar fora do segundo turno.
Coordenadores da campanha de Haddad em Minas também creditaram à ex-presidente a derrota do candidato de Lula no Estado. Na avaliação deles, a memória da recessão em que o País mergulhou no governo Dilma teve influência no voto do mineiro para a presidência, já que ela estava nas urnas como favorita para conquistar uma vaga no Senado pelo Estado. A leitura é de que o eleitor quis afastá-la do Congresso e que isso contaminou o voto para presidente.