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Política Partidos que ganharam ministérios de Lula se tornaram mais infiéis ao governo

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Ideia de mudar o poder e a composição das agências reguladoras é antiga nos governos petistas, mas nunca conseguiu força para avançar no Congresso. (Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado)

Em seu terceiro mandato na Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva segue com dificuldade para aprovar projetos no Congresso que vão além da área econômica e ainda enfrenta embates com bandeiras deixadas pelo bolsonarismo no Parlamento. Levantamento feito pelo jornal O Globo mostra que partidos aliados, no comando de ministérios, passaram a seguir menos a orientação do Executivo em votações na Câmara este ano do que em 2023.

O PSD, por exemplo, à frente de três pastas (Minas e Energia, Agricultura e Pesca), passou de uma votação 86% alinhada com a orientação do governo em 2023 para uma média atual de 74%. Os dados levam em consideração apenas as votações nominais feitas no plenário da Câmara nas quais o governo orientou “sim” ou “não”. Neste recorte, foram 80 votações em 2024 e 238 no ano passado.

Pautas prioritárias

Entre as divergências em relação ao Planalto, em maio a sigla votou em peso para derrubar um destaque do PT no projeto anti-MST, que impede invasores diretos e indiretos de propriedades de receber benefícios sociais federais, como o Minha Casa, Minha Vida.

Outra sigla que reduziu sua taxa de adesão foi o MDB, também à frente de três ministérios: Transportes, Cidades e Planejamento. O índice do partido passou de 81% em 2023 para 69% agora.

“Nos projetos que o governo coloca como prioridade, o MDB entrega seus votos, principalmente nas pautas econômicas”, argumentou o presidente da sigla, deputado Baleia Rossi (MDB-SP).

O partido tem quadros de oposição na sua bancada, como o ex-ministro de Jair Bolsonaro Osmar Terra (MDB-RS) e lideranças da bancada ruralista, caso de Alceu Moreira (MDB-RS), o que leva à heterogeneidade na entrega de votos em pautas de costume.

No início de maio, a Câmara votou a urgência de um projeto que excluiu a silvicultura do rol de atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos ambientais. O governo orientou contra. No MDB, toda a bancada, com exceção do deputado Rafael Brito (MDB-AL), votou favoravelmente. No mérito do projeto, no entanto, o governo liberou a bancada, e a medida foi aprovada e sancionada sem vetos por Lula.

Já no Republicanos, do ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, a taxa de votos acompanhando a orientação da base de Lula caiu de 77% em 2023 para 70% este ano.

“O Republicanos é um partido que geralmente vota em bloco, é homogêneo. O partido não é governista e também não é oposição radical. A sigla se sente independente, mas 60% das pautas não são polêmicas. E essa queda é coincidência do que foi votado”, justifica o deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG), vice-líder da legenda na Câmara dos Deputados.

Além desses partidos, a taxa no União Brasil caiu de 71% para 63% em 2024. No PP, o índice passou de 75% para 65% no mesmo recorte de tempo.

“O partido é favorável às pautas importantes para o governo. Agora, tem as de costume, que eu não considero agenda de governo. Aborto, ‘saidinha’, alteração no processo penal, invasão de terra… Os deputados são monitorados pelas redes sociais; aí, ninguém controla o voto”, reconhece o líder da bancada do União Brasil, Elmar Nascimento (União-BA).

Na última sessão do Congresso, 54 dos 58 deputados do União Brasil votaram pela derrubada do veto de Lula ao projeto que restringiu as saídas temporárias de detentos. O PP, sigla do ministro do Esporte, André Fufuca, também votou em massa pela derrubada: foram 43 votos, na bancada de 50 parlamentares.

O presidente do PP, senador Ciro Nogueira, acredita que o alinhamento do seu partido ao governo é relevante, apesar de não considerar a sigla como base de Lula. Ele atribui o que define como “alta adesão” à articulação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), nas pautas econômicas que ele apoia.

A queda na adesão dos partidos de centro acontece em paralelo ao aumento da liberação de emendas. Como 2024 é um ano eleitoral, os recursos precisam ser liberados até quatro meses antes do pleito de outubro deste ano.

Até a última quinta (6), o governo já tinha empenhado R$ 19,8 bilhões, cerca de 40% do total de emendas previstas para o ano. A liberação em ritmo acelerado chegou a ser comemorada pelo ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

O maior fluxo ocorreu em abril, com R$ 13 bilhões empenhados pelo governo federal. Apesar dessa concentração, no mês seguinte o governo teve o seu pior desempenho na Câmara dos Deputados entre os partidos com ministros na Esplanada, sugerindo que a liberação de emendas não teve, neste ano, o mesmo impacto no Legislativo que nos anos anteriores. Em maio, foram liberados outros R$ 5 bilhões.

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