No último domingo, o Museu Nacional, Patrimônio Histórico e Artístico Nacional com 200 anos de existência, sucumbiu às chamas do incêndio que tomou conta de seu prédio. Em entrevista à Globonews, seu vice-diretor, Luiz Fernando Dias Duarte, afirmou, após o acontecimento, que seu “sentimento é de raiva pelo que se perdeu na vala comum dos interesses da administração pública”. Interesses que trataram com extremo descaso a história e o passado do País, visto que desde 2014 a verba anual prevista para manutenção do prédio não era concedida integralmente, mesmo diante de alerta sobre risco de incêndio, realizado em 2004. Uma tragédia anunciada.
Criado em 1818 por Dom João VI, o Museu Nacional abrigava o mais antigo centro de ciência do Brasil e era o maior do seu tipo na América Latina. Serviu como palácio da família real portuguesa e até domingo abrigava mais de 20 milhões de peças em seu acervo, entre documentos históricos e o fóssil humano mais antigo encontrado no País. No entanto, o descaso público que permitiu o incêndio trouxe à tona o questionamento sobre a real capacidade do poder público de realizar a manutenção desse tipo de patrimônio.
A privatização ou a concessão em parcerias público-privadas de museus, parques ou demais espaços culturais e áreas de lazer são constantemente alvo de críticas, com o equivocado argumento de que devem ser de usufruto de todos e de propriedade do povo. Ora, o que é de todos não é de responsabilidade de ninguém, e agora todos pagam o preço da ingerência pública ao ficar sem patrimônio, sem os registros da sua história e sem poder conhecer melhor seu passado, simplesmente porque o Estado, mais uma vez, ao tentar prover tudo a todos, acaba por garantir nada a ninguém.
O problema não é a falta de recursos, mas a má gestão pública. O Estado brasileiro, inchado e caro, precisa dar conta de inúmeras frentes e interesses, ao mesmo tempo em que é extorquido pela extensa burocracia e pelos interesses políticos e individuais – por vezes ilícitos – daqueles que o governam. Se o Estado não consegue garantir o mínimo nem sequer para a manutenção de sua história e seu passado, o que dirá para o futuro de seu povo?
Patrícia Bock Bandeira é administradora, mestre em psicologia e associada do IEE