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Passagem aérea atinge maior preço no Brasil em quase 10 anos

Valor médio dos voos domésticos foi de R$ 682,60 em maio, diz Anac. (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

Os preços das passagens aéreas decolaram no Brasil. Em maio, a tarifa média de voos domésticos chegou a R$ 682,60, uma alta de 48,5% ante igual mês do ano passado (R$ 459,79).

O preço mais recente também é o maior em termos reais – com o ajuste pela inflação – desde dezembro de 2012 (R$ 686,76), de acordo com dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).

Na visão de analistas e representantes do setor de turismo, a inflação do segmento testa neste momento a capacidade de planejamento do brasileiro para as viagens.

Segundo eles, a organização e a procura por passagens com alguma antecedência ainda são as opções mais indicadas para tentar encontrar bilhetes que pesem menos no bolso.

“A passagem mais cara, sem dúvida, impacta as viagens, apesar de o setor de turismo ter apresentado um crescimento muito rápido [após a derrubada de restrições na pandemia]”, diz Roberto Nedelciu, presidente da Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo).

“Quando o cliente liga e vê os preços das passagens no curto prazo, para o mês seguinte, por exemplo, às vezes fica impossível. Há ocasiões em que ele muda o destino, escolhe um mais próximo. Mas temos insistido para que a viagem seja programada com antecedência”, completa.

Segundo Nedelciu, os prazos de planejamento sugeridos são de no mínimo 40 a 60 dias para deslocamentos nacionais e de seis meses para idas ao exterior.

“O principal ponto para economizar é o tempo. Quanto maior a antecedência, mais oportunidades a pessoa tem para monitorar os preços das passagens e fazer a compra”, afirma Adriano Severo, analista de investimentos e educador financeiro da Severo Capital.

Outra dica, diz, é comparar os valores em sites que negociam bilhetes e nos endereços das próprias companhias aéreas. “É comum encontrar preços diferentes”, relata Severo.

Combustível e demanda pressionam preços

Um dos fatores que levaram as tarifas para cima foi a carestia do querosene de aviação, o QAV, destacam analistas.

Na reta final de dezembro, o preço do litro era de R$ 3,71, conforme dados reunidos pela Anac. Em meados de junho, subiu para R$ 5,63, uma alta de 51,8%. A taxa de câmbio acima de R$ 5 contribui para o avanço do combustível.

“Existe uma pressão de custos sobre as companhias aéreas, sobretudo com a alta do querosene de aviação”, aponta o economista Fabio Bentes, da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).

De acordo com ele, a retomada das atividades turísticas após o tombo na pandemia também ajuda a explicar a alta dos bilhetes nos últimos meses.

Em maio, o número de passageiros pagos em voos domésticos foi de 6,4 milhões, aumento de 75,7% ante igual mês de 2021 (3,6 milhões), sinalizam dados da Anac.

O patamar, contudo, ainda ficou 10% abaixo de maio de 2019 (7,1 milhões), antes da crise sanitária.

Também há sinais de aquecimento nos voos internacionais. Em maio deste ano, o número de passageiros pagos foi de 1,2 milhão, aponta a Anac.

A quantidade é 519,6% maior do que no quinto mês de 2021 (195,5 mil). Porém, ainda está 36,5% abaixo de maio de 2019 (1,9 milhão).

“A gente vê a inflação em vários segmentos. A passagem aérea é afetada. Muita gente deixou de viajar na pandemia, e depois houve um aumento abrupto na demanda”, aponta Frederico Levy, vice-presidente de marketing e eventos da Abav (Associação Brasileira de Agências de Viagens).

O advogado Renato Raposo, 44, é um dos brasileiros que aguardavam a trégua da Covid-19 para voltar a viajar.

No final do mês, ele embarca para o Sri Lanka. O país, que atravessa crise política, será o 49º da lista de destinos visitados pelo morador do Rio de Janeiro.

Raposo relata que, nos últimos meses, percebeu um “aumento significativo” nas passagens. Para encarar os preços mais altos, buscou planejar a viagem com no mínimo 90 dias de antecedência, o que garantiu valores mais em conta, segundo ele.

“Dificilmente faço uma viagem repentina. Gosto de planejar para ter melhores condições de manobra e opções de voos”, diz o advogado.

Inflação

No Brasil, as passagens aéreas de voos domésticos acumularam inflação de 122,4% em 12 meses até junho, conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A alta foi a maior entre os 377 subitens que compõem o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

Na fase inicial da pandemia, com a demanda no chão, as passagens chegaram a registrar queda de preços. A deflação (baixa) até janeiro de 2021 foi de 28,86%, por exemplo.

Para Fabio Bentes, da CNC, passados os efeitos da reabertura da economia, os preços das passagens em nível elevado podem frear a retomada do turismo ao longo do segundo semestre. Os juros mais altos também jogam contra o setor, diz.

“Isso pode fazer com que a reação do turismo fique mais lenta no segundo semestre. Medidas como o Auxílio Brasil, por exemplo, não atingem quem consome esse tipo de serviço”, avalia.

Em maio, o índice de atividades turísticas calculado pelo IBGE voltou a subir e ficou apenas 0,1% abaixo do patamar pré-pandemia (fevereiro de 2020) no país. O indicador reflete o desempenho de 22 serviços associados ao turismo.

Frederico Levy, da Abav, ainda vê condições de uma aquecida até dezembro. “Tem pessoas deixando os planos mais para frente, porque, no meio do ano, as coisas ficam mais caras com as férias.”

A Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas) também sinaliza que a inflação das passagens está associada a questões como a pressão de custos.

Nesse sentido, a entidade cita o aumento do querosene de aviação, que historicamente representa em torno de um terço dos custos das companhias aéreas.

“É importante enfatizar que o preço de uma passagem aérea tem relação direta com os custos das companhias, que por sua vez são impactados por fatores externos, como a cotação do dólar em relação ao real, que indexa mais da metade dos custos do setor, pressionando itens como o combustível dos aviões, manutenção e arrendamento de aeronaves”, afirma.

A Abear relata que comprar bilhetes com antecedência de pelo menos dois meses tem sido a recomendação das suas associadas para que os passageiros encontrem “preços competitivos”.

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