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Ali Klemt Passagens de bastão 

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(Foto: Fernando Dias/Seapi)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Existe um período do ano que é especial para mim: a quinzena entre a última semana de junho e a primeira semana de julho.

Coincidentemente, esse período inaugura o inverno, com suas noites longas e a necessidade de recolhimento. Não é pelo frio, porém, que esses dias me são de profunda reflexão.

Ocorre que meus filhos fazem aniversário entre os dias 26 (Henri) e 04 (Thomas). Dois cancerianos intensos, sensíveis e completamente diferentes. Duas fases distintas do crescimento acontecendo, concomitantemente. Duas pessoas me ensinando formas quase contraditórias de ser mãe.

Eu costumo dizer que a criança é a materialização da passagem do tempo. E é diante dos seus saltos de crescimento que “caímos” na real: o tempo é inexorável.

Natural, portanto, que eu passe por dias intensamente emocionais. Parece que foi ontem que o meu quase adolescente nasceu – do choro da cólica aos dramas existenciais foi um “pulo”. E, se de um lado, a maternidade fica fisicamente mais fácil com o passar dos anos, ela se torna emocionalmente desgastante, com dilemas diários e medos assustadores.

Enquanto isso, meu bebê da pandemia se tornou um mini jogador de futebol, que canta o Hino Nacional e sabe indicar qual jogador joga em que time. Oi? Eu pisquei e ele virou um ser com opinião e personalidade própria.

Inevitável que o filme da vida passe pela nossa cabeça. Impossível não pensar nos meus pais e nos meus avós, no orgulho e na dor de criar e deixar crescer. Deixar ir. Permitir o voo. Saber que, embora os pássaros voltem, o ninho deles ainda será em outro lugar, e de outra forma e com outras pessoas. Aiiiii como dói ser mãe!

Daí porque os ritos de passagem são tão importantes. As celebrações das etapas nos dão a segurança da jornada já trilhada por tantos outros antes de nós. Aquece o coração saber que assim é a vida, com seus movimentos incontornáveis e seus ciclos intermináveis até que ela mesma, enfim, termine.

Se é inevitável, que seja incrível. Que se viva a magia de cada dia, de cada ano como se fosse a última – porque, de fato, é.

E é com o peito apertado e os olhos marejados que eu chego a mais uma “semana de passagem” – que coincide, ainda, com a data em que seria o aniversário do meu avô Pedro Américo, cujo legado pode ser resumido em uma frase que ele deixou imortalizada na comemoração de suas Bodas de Ouro (mais um rito de passagem) com a minha avó Carmen: a eterna importância da família na “passagem de bastão da vida”…

O ninho, um dia, ficará vazio, mas é a formação do time, de forma contínua, presente e verdadeira, que manterá, sempre, a equipe unida.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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