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Política Pastor acusado de cobrar propina no Ministério da Educação investiu 450 mil reais na abertura de duas empresas há duas semanas

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Pastor foi alvo de operação da Polícia Federal que apura corrupção e tráfico de influência no Ministério da Educação. (Foto: Reprodução)

Suspeito de cobrar propina para facilitar a liberação de recursos do Ministério da Educação, o pastor Gilmar Santos investiu quase meio milhão de reais para criar duas empresas, abertas há duas semanas. No mesmo dia, 8 de março deste ano, ele abriu uma faculdade em Goiânia, com aporte inicial de R$ 100 mil, e registrou uma editora na cidade vizinha de Aparecida de Goiânia, com capital de R$ 350 mil.

Na última quarta-feira (23), dois prefeitos afirmaram que Santos e outro religioso, Arilton Moura, pediram quantias em dinheiro e até a compra de bíblias em troca de agilizar os repasses aos municípios.

O jornal O Globo conferiu os dois endereços das empresas que constam nos documentos protocolados na Junta Comercial de Goiás. Tanto a faculdade quanto a editora foram registradas em sedes da Assembleia de Deus Cristo Para Todos, igreja comandada por Santos e da qual Moura também faz parte. Nos dois casos, não há sinal de que os locais sirvam para outras atividades além dos cultos religiosos.

Na capital goiana, o templo funciona em um prédio de três andares que atualmente está em obras (na fase de concretar as paredes), cercado por duas casas grandes e muradas. O templo central, que foi visitado pelo ministro da Educação, Milton Ribeiro, no fim do ano passado, fica bem em frente das três estruturas.

Segundo vizinhos que frequentam a igreja, a obra começou há três anos e foi paralisada por falta de dinheiro durante a pandemia. Em vídeos postados em 2021, o pastor aparece pedindo dinheiro aos fiéis para comprar ferragens para as escadas e concluir a construção do telhado — nas imagens, ele balança um papel com orçamento das obras. A nova estrutura, de acordo com os fiéis ouvidos em caráter reservado, é onde o pastor pretende instalar a “Faculdade ITCT”, sigla para “Instituto Teológico Cristo para Todos”.

A sede em Aparecida de Goiânia, por sua vez, é mais modesta. No endereço onde a nova editora de Santos foi registrada existe apenas um galpão, pintado de azul, com o nome da igreja e uma foto do religioso na fachada. O local, que fica em uma área industrial a cerca de 20 minutos do centro da cidade, estava fechado na tarde de quinta (24).

Santos já possuía uma editora, criada em 2013, no mesmo endereço da igreja em Goiânia, registrada como “Editora e Publicadora Cristo para Todos Limitada”. O capital social desta empresa é de R$ 110 mil. A nova, criada há duas semanas com o triplo do valor, tem CNPJ diferente, mas nome quase idêntico: “Editora Cristo para Todos Limitada”.

Os relatos dos prefeitos Kelton Pinheiro, de Bonfinópolis (GO), e José Manoel de Souza, de Boa Esperança do Sul (SP), dão conta de que os pedidos de propina variavam de R$ 15 mil a R$ 40 mil e incluíam também a compra de bíblias.

Além de fundador da Assembleia de Deus Cristo Para Todos, Santos é diretor da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus do Brasil.

Em nota, Santos negou que tivesse influência no MEC. Milton Ribeiro, por sua vez, afirmou em entrevistas que no ano passado encaminhou denúncia anônima sobre os religiosos para a Controladoria-Geral da União (CGU). Também em nota, o órgão disse ter encontrado indícios da prática de crimes na cobrança de propina para liberar recursos do MEC, mas disse não ter encontrado irregularidades por parte de agentes públicos.

Nova personagem

Prefeitos acusaram mais uma pessoa de intermediar a liberação de dinheiro do MEC: Nely Carneiro da Veiga Jardim. Ela não é funcionária da pasta, mas participava de reuniões com o ministro.

Segundo relatos, falava em nome do ministério. Em pelo menos duas agendas do MEC, Nely aparece como representante da Igreja Cristo para Todos.

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