A participação de Pablo Marçal no ato de 7 de Setembro na Avenida Paulista irritou lideranças bolsonaristas e pode custar votos ao ex-coach no segmento evangélico. Depois de chegar atrasado e reclamar de ter sido impedido de subir no trio onde estava o ex-presidente Jair Bolsonaro, o candidato a prefeito de São Paulo passou a ser alvo direto do pastor Silas Malafaia, figura influente no meio, que o acusa de fazer uso eleitoreiro do evento.
Malafaia já havia disparado críticas contra Marçal na imprensa, alegando que o candidato tenta posar de vítima mesmo tendo aparecido somente depois do término do ato. Segundo ele, o atraso foi proposital por “medo ou acordo” com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Na última segunda-feira (9), o líder evangélico gravou vídeo apelando diretamente aos seus seguidores que votem em outro candidato.
“Esse cara não é digno dos votos da direita, dos evangélicos, nem do povo de São Paulo porque mente, deturpa, engana para tirar proveito político”, declarou.
Silas Malafaia, que é líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, denominação fundada no Rio de Janeiro (RJ), colocou em dúvida, em outras oportunidades, o comprometimento de Marçal com a religião, dizendo que ele se considera cristão, mas não está vinculado a nenhuma igreja. O empresário, por sua vez, costuma usar diversas passagens bíblicas em seus discursos e entrevistas. No sábado (7), disse que se considera um “videriano”, em evento de celebração dos 25 anos da Igreja Videira, em Goiânia (GO).
Ao menos por ora, contudo, o pastor não pretende declarar apoio ao prefeito Ricardo Nunes, que firmou aliança com Bolsonaro e o PL em sua tentativa de reeleição. Outra candidata que tem apelo entre bolsonaristas é a economista Marina Helena, que se mostrou mais à vontade na manifestação e usou camiseta pedindo impeachment de Moraes. Nunes vestiu uma camiseta da seleção brasileira e teve participação discreta na Paulista.
Auxiliares da campanha de Nunes analisam de forma positiva e entendem que a situação já beneficia o emedebista, porque “ajuda a desmascarar” o adversário no meio evangélico sem que o prefeito tenha de se envolver diretamente na briga. O emedebista seria o candidato natural a herdar o voto, segundo uma fonte, porque tem boa relação com as igrejas e pastores da capital paulista. Nunes deve continuar apostando no diálogo institucional, sem mirar em Marçal em suas falas com os fiéis.
O ato de 7 de Setembro desencadeou novos capítulos na disputa pelo eleitorado evangélico, segundo o jornal O Globo. Poucas horas depois de deixarem a multidão de apoiadores, Nunes e Marçal participaram de efemérides de igrejas evangélicas. Os dois estão tecnicamente empatados na liderança da pesquisa mais recente do Datafolha, junto com o deputado federal Guilherme Boulos, e precisam fidelizar a direita em São Paulo para garantir lugar no segundo turno.
Após o vídeo de Malafaia ser distribuído nas redes sociais e aplicativos de mensagens, Marçal compareceu a uma agenda com dirigentes do Sindicato dos Taxistas Autônomos de São Paulo e disse não estar preocupado com a repercussão entre os evangélicos. O candidato alegou que Malafaia age como Eliabe, irmão mais velho de Davi, segundo a Bíblia, ao tentar desmoralizá-lo.
“Malafaia falou que eu tenho medo de Alexandre de Moraes. Só tem uma pessoa que eu tenho medo, que é o Deus vivo. Alexandre de Moraes tem excesso, precisa ser investigado igual a todo mundo”, rebateu o empresário. “Fez um trabalho relevante como pastor no Brasil, ajudou bastante, mas em política só dá fora.”
Marçal disse que evangélico “não é gado” e votará “por princípios” em outubro. Ao final, desafiou o pastor para uma “live” e acusou Malafaia de ser “financiado” pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, que tem apoio no presidente Lula nas eleições deste ano. O candidato bolsonarista, Alexandre Ramagem, participou de todo o evento na Paulista.
Malafaia disse que deve publicar outros conteúdos a respeito do ex-coach ao longo da semana, mas não organiza um movimento mais amplo nesse sentido no meio evangélico. Reitera, no entanto, que a postura de Marçal desagradou Bolsonaro e outras lideranças do ato e que seus vídeos encontram boa aceitação entre pastores de São Paulo.