Quarta-feira, 23 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 22 de outubro de 2022
Giorgia Meloni, a líder de extrema-direita pelo partido Irmãos da Itália, foi empossada neste sábado (22) como a primeira mulher a se tornar premiê da Itália. Ela venceu a eleição com uma campanha construída em torno da promessa de bloquear navios de imigrantes e apoiar os tradicionais “valores familiares” e temas anti-LGBTQIA+.
Meloni foi empossada pelo presidente italiano Sergio Mattarella em uma cerimônia no Palácio Quirinale, em Roma.
Ela lidera uma aliança de partidos de extrema-direita e centro-direita, entre eles o seu partido Irmãos da Itália, e deve formar o governo mais de direita que a Itália já viu em décadas.
A vitória de Meloni nas eleições parlamentares no mês passado sugere que o fascínio do nacionalismo permanece inalterado na Itália, mas sua promessa de levar o país a uma virada para a direita ainda deixa muitos incertos sobre o que acontecerá a seguir.
O novo governo é formado por uma coalizão com outros dois líderes de direita. Um deles é Matteo Salvini, ex-ministro do Interior que se tornou o queridinho da extrema-direita em 2018, quando transformou seu partido, a Liga, outrora um partido secessionista do norte, em uma força nacionalista.
Os 24 ministros de Meloni –sendo seis mulheres– foram empossados ao lado dela neste sábado.
O outro é Silvio Berlusconi, o ex-primeiro-ministro italiano de centro-direita amplamente lembrado por seus escândalos sexuais com mulheres jovens. Ambos os homens já expressaram publicamente admiração pelo presidente russo, Vladimir Putin, o que levantou questões sobre qual será a abordagem da coalizão em relação à Rússia.
E apenas nesta semana, dias antes do início das consultas sobre a formação do governo, circulou um áudio gravado secretamente no qual Berlusconi parecia colocar a culpa pela invasão da Ucrânia por Putin em Kiev e se gabava de ter restabelecido as relações com o líder russo.
“Reconectei-me um pouco com o presidente Putin, bastante, no sentido de que no meu aniversário ele me deu 20 garrafas de vodca e uma carta muito doce, e eu respondi dando a ele garrafas de Lambrusco”, disse Berlusconi no áudio. O bilionário e magnata da mídia de 86 anos estava conversando com membros do partido Forza Italia na época.
Um porta-voz do partido negou que Berlusconi estivesse em contato com Putin, dizendo que ele estava contando aos parlamentares “uma velha história referente a um episódio de muitos anos atrás”. Berlusconi defendeu seus comentários em entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera na quinta-feira (20), dizendo que estavam fora de contexto.
Em meio à reação aos comentários, Meloni, que tem sido uma forte defensora da Ucrânia enquanto o país luta contra a invasão de Moscou, procurou esclarecer onde ela e a coalizão estariam uma vez no poder.
“Tenho e sempre serei clara, pretendo liderar um governo com uma política externa clara e inequívoca. A Itália faz parte plenamente da Europa e da Aliança Atlântica. Quem não concorda com essa pedra fundamental não poderá fazer parte do governo, ao custo de não ser governo. Conosco governando, a Itália nunca será o elo fraco do Ocidente”, disse ela.
No entanto, os liberais na Itália e na União Europeia temem o que a prometida guinada à direita pode significar para o país e seu futuro –enquanto os eleitores conservadores sentem que apenas um político de braço forte, como Meloni, pode tirar o país da crise em meio ao aumento dos custos da energia e desemprego juvenil elevado.
“Meloni não está expressando as escolhas de voto dos eleitores de direita radical, porque temos dados que mostram que ela foi votada principalmente pela centro-direita”, disse o professor de ciência política, Lorenzo De Sio, da Universidade Luiss Guido Carli.
“Eu diria que o lema de Meloni é ser uma espécie de novo conservador –ou seja, conservadorismo para o século 21. Ela pode ter alguma conexão antiga com o legado pós-fascista, mas claramente esse não é o núcleo de sua plataforma política agora”.