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Por Redação O Sul | 30 de maio de 2019
Pela primeira vez na história, clubes de um mesmo país chegaram às decisões continentais na Europa: o Chelsea bateu o Arsenal em clássico londrino na final da Liga Europa na quarta-feira (29), e Tottenham e Liverpool lutarão pela sonhada Liga dos Campeões neste sábado (1º), em Madri, na Espanha.
A consagração do futebol inglês não é mera coincidência. Criada em 1992, quando a Inglaterra ainda lutava para espantar os hooligans – como são conhecidos os torcedores violentos –, a Premier League demorou um pouco a deslanchar e atrair estrelas estrangeiras (há 20 anos, havia apenas um brasileiro por lá; hoje são 22), mas nesta década se consolidou como a nova “Meca da bola”, com cifras exorbitantes de cotas de TV, patrocínio e valor de mercado dos craques.
O desenvolvimento econômico e a chegada de gringos também mudaram a forma como os inventores do futebol encaram o jogo: os chutões para o alto deram lugar a um jogo técnico, veloz e vistoso, capaz de desbancar Barcelona, Real Madrid, Bayern de Munique e outras potências.
Há 20 anos, o Manchester United foi campeão europeu e mundial com um time repleto de britânicos, como o inglês David Beckham, o galês Ryan Giggs, o técnico escocês Alex Ferguson (e nenhum sul-americano ou africano no time titular).
Os astros brasileiros, como Ronaldo e Rivaldo, estavam, claro, na Itália e na Espanha, que até pouco tempo atrás eram os destinos sonhados por nove entre dez estrelas. Hoje, os finalistas da Champions têm treinadores e elencos cheios de estrangeiros – o brasileiro Lucas Moura e o sul-coreano Son Heung-Min, por exemplo, foram os destaques do Tottenham na competição, e o egípcio Mohamed Salah, o senegalês Sadio Mané e o brasileiro Roberto Firmino são as apostas de gols do Liverpool.
A globalização chegou até as cadeiras mais importante dos clubes – do chamado “Big Six”, grupo formado por Manchester United, Liverpool, Chelsea, Manchester City, Arsenal e Tottenham, apenas o último tem um dono inglês.
Justamente pelo apego dos brasileiros à Liga Espanhola e à Séria A italiana, o Brasil demorou a fincar raízes na terra da rainha. Nenhum dos cinco atletas brasileiros eleitos Bola de Ouro – Romário, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Kaká – atuou no Reino Unido. Mirandinha, contratado pelo Newcastle em 1987, foi o desbravador. Juninho Paulista, ídolo do modesto Middeslbrough na década de 90, o primeiro a fazer sucesso – para então, consagrado, seguir rumo ao futebol espanhol.
Nas décadas seguintes, atletas como Lucas Leiva (346 jogos pelo Liverpool, recorde entre os atletas do país) e Gilberto Silva (244 jogos pelo Arsenal) ganharam respeito e se tornaram ídolos.
Nos últimos anos, o mapa da Seleção Brasileira na Europa se alterou. Dos 23 convocados por Tite para a Copa América, seis atuam na Premier League; quatro na França, quatro na Espanha, quatro na Itália, três no Brasil, um em Portugal e um na Holanda. Os novos números comprovam que, além do sonho de vários jogadores brasileiros, o carimbo inglês no passaporte passou a ser almejado, também, pelos jogadores de mais alto nível do mundo.
“Hoje há mais craques, incluindo os brasileiros, porque os clubes têm condição financeira. Que clube, além de Barcelona e Real Madrid, poderia pagar a um goleiro o que o Liverpool pagou pelo Alisson? Isso deixa o campeonato mais chamativo”, afirma o goleiro brasileiro Heurelho Gomes, 38 anos, de passagem marcante pelo Tottenham (2008 a 2014) e atualmente no Watford.